quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Dois tiros na beira do rio


O celular tocou ao receber uma mensagem. André tampou os olhos com a mão direita ao abri-los e deparar-se com a luz solar da manhã que invadia seu quarto pela fresta que a cortina deixava. Esfregou-os então até conseguir abri-los sem que ardessem.
“Socorro! Vem no rio”. Foi o que leu na mensagem de Alice. 
Levantou-se num pulo da cama, e como já estava de bermuda vestiu apenas uma camiseta e saiu às pressas de casa. Um peso montou-lhe nas costas enquanto ele corria em direção ao rio que não ficava muito longe de sua casa, preocupadíssimo. Algo em sua cabeça palpitava e doía. Pressentimento ou curiosidade, algo sério estava acontecendo.
Quando chegou, seus olhos se paralisaram como se não fossem humanos. Mike – seu melhor amigo – virou-se lentamente para ele, e segurava uma arma na mão caída ao lado do corpo. A dor foi tanta, que André não percebeu a angústia que carregava o semblante de Mike, porque Alice, sua namorada, estava estirada na beira do rio com sangue no peito.  
- André... – Mike tentou chamá-lo, infeliz.
- DESGRAÇADO! O que você fez? – Respondeu André voltando-se para o amigo, cheio de súbita desesperada fúria. Movimentando-se depressa e bruscamente, chegou bem perto e socou a cara de Mike, que bobeou um pouco, permitindo sem querer que André lhe tomasse a arma que segurava.
Um puxado de gatilho após destravar a arma, um estouro e então só o silêncio do vento batendo nas águas do rio abandonado é o que se podia ouvir. 
Enlouquecido de dor, voltou-se para o corpo sem vida de Alice na beira do rio e suas pernas bambearam, ao que caiu de joelhos ao lado da moça. Um não ensurdecedor ecoou a cidade toda naquele momento. Então pousou sua cabeça sobre o peito onde não sentia mais um coração pulsando, e chorava, incontidamente.
- Não deveria ter matado ele... Conhecia esse moço, meu filho? – Perguntou um senhor de vestimenta bem humilde que se aproximava por trás sem fazer barulho. André virou-se para ele, confuso. Não o tinha visto por perto.
- Era meu melhor amigo – contou ao senhor num tom inconformado que revelava decepção.
- Devia ser mesmo. Eu não sei o que houve aqui, moro aqui na redondeza e estava caminhando quando notei uma confusão aqui na beira desse rio. Tinha um homem feio, magrelo e barbudo apontando essa arma para a garota, que gritava por socorro. E esse moço apareceu correndo e tentou entrar na frente. Mas o barbudo foi mais rápido e acertou-a antes que ele chegasse. Covarde do pior tipo o homem jogou a arma no chão depois de mexer em alguma coisa nela e fugiu, como se não quisesse levar a culpa. Esse rapaz apanhou-a e apontou para ele, mas não conseguiu atirar e o cara acabou escapando por aí.
Então André lembrou-se que a arma estava travada quando foi atirar em seu melhor amigo, que só tentou salvar Alice. 

Um comentário:

renatocinema disse...

Que saboroso voltar a ler os contos desse site. Sou fã.