O
genuíno tédio flutuava vigoroso ao redor de Anete. Ela não tinha absolutamente
nada para fazer. As aulas já haviam acabado, estava de férias do trabalho e os
pais não se encontravam em casa, faziam a compra do mês. Provavelmente
demorariam e, até lá, ficaria sem ter com quem conversar.
Já resignada com a mórbida tarde que se
estendia cruelmente a sua frente, dirigiu-se ao quarto, roendo – freneticamente
– a unha do polegar direito em gesto de extrema ansiedade.
Foi então que algo aconteceu: dizendo-lhe,
usa-me, estava o telefone, acomodado jeitosamente ao lado de uma agenda –
infinitas possibilidades – sobre o criado-mudo.
Anete sorriu e rapidamente telefonou à
Janete.
_
Alô? – atendeu a amiga.
_
Olá, Janete! Aqui é Anete.
_
Como vai, querida?
_
Muito bem e você?
Após 45 minutos de conversas triviais, como
quem não quer nada, Anete comentou:
_
Ontem, de minha janela, eu a vi, a avó da Ana. Qual não foi minha surpresa!
Estava lindíssima entrando em um carro sofisticado.
_ E
você viu quem o dirigia?
_
Não. Os vidros eram escuros...
_
Vai saber! Preciso desligar agora. Tenho que limpar a casa.
_
Alô?
_ Olá,
Margarete! Aqui é Janete.
_
Como vai, querida?
_
Muito bem e você?
...
...
...
_
Menina! – exclamou Janete eufórica. – Esqueci de lhe contar: a avó de Ana foi
vista entrando em um carro de luxo. Dizem que o vidro era fumê...
...
_
Vai vendo aí, Marinete – disse Margarete inconformada. – A avó de Ana foi
levada por um verdadeiro cavalheiro em uma Ferrari. Nós, muito mal, vamos de
bicicleta ao serviço.
...
_ E
estão falando que era um rapaz jovem e forte. O avô de Ana não pode nem sonhar
– disse Marinete à Elizete.
Anete terminava de lixar as unhas ruídas,
pretendendo pintá-las de vermelho dentro de uma semana, quando o telefone tocou.
Era Elizete.
_
Anete de Deus! Acabei de descobrir que a avó de Ana está traindo seu esposo.
Marinete contou-me.
_
Jesus Cristo! É por isso que a vi ontem entrando em um veículo suspeito...
Neste momento, do outro lado da rua, Otília,
a avó de Ana, saia do carro de seu marido. O novo veículo era fenomenal. Estavam
contentíssimos!
2 comentários:
O que uma "fofoca" não faz...
Brilhante conto, Rafa!
Nossa, muito bom!
Aquele finalzinho bem humorado com uma "lição de moral".
Postar um comentário