Pode me chamar de ilusão

Olá, meu nome é Ilusão. Eu acompanho-te desde criançinha. Presenciei e proporcionei os melhores e piores momentos de sua vida. Jamais te abandonei e eternamente ao seu lado irei estar. Fiz você esperar ansiosamente a visita do Papai Noel nas noites de Natal, fiz-lhe correr atrás do Coelho da Páscoa para conseguir ovos e te fiz sonhar com fadas. Porém um dia eu me superei, fico até mesmo orgulhosa de mim mesma quando vou contar esse fato. Você já era grande, talvez já fosse adulta, e mesmo assim eu te prendi com as minhas doces garras e dei o carinho que você tanto desejava. Enganei-te e fiz-lhe acreditar que o seu sonho seria realizado, que você encontraria na sua vida o homem perfeito, o seu príncipe encantado.

Eu amava-te, e talvez por isso a tenha iludido. Mas eu sei que você sorriu quando acreditou que um lindo homem de cabelos lisos, de cavalo branco e inteligência incontestável chegaria até você e te pediria em casamento. Fiz-te imaginar que o amor de vocês seria infinito, afinal a primeira coisa que eu cochichei aos seus ouvidos é que todo amor é eterno. Por minha causa você chegou a imaginar que o príncipe seria sua alma gêmea, que vocês seriam iguais, pensariam iguais e que ele te acordaria com beijos e esperaria dormir todas as noites. Delicioso engodo, você se lambuzou com ele. Não tenho culpa de ser tão boa contadora de histórias. Tenho menos culpa ainda se você fez força para acreditar.
Hoje, eu vejo-te a chorar pelos cantos, lamentar-se profunda e desesperadamente. Vi você culpar Deus e o mundo. Resolvi ler sua mente e descobri que você chegou a cogitar suicídio. Segui tranqüila até me deparar no seu mais pavoroso pensamento. Nele você me culpava por tudo que havia acontecido. Não acreditei! Logo eu?! Eu te amei e te dei os pensamentos mais lindos e puros.
Desisti de você. Deixar-lhe-ei nas mãos da verdadeira culpada, minha irmã, a dura e perversa Verdade. Espero que vocês se dêem bem. Caso contrário, estarei de braços abertos para te receber de volta. Afinal, eu sou sempre a melhor opção.

Texto: Marcos de Sousa