“Letras! Letras! Letras!” exalto-me, atirando a caneta pelos
ares. Pah! Atiro o caderno, capa negra, páginas esbranquiçadas. Pah!
Um quase silêncio rodeia-me:
imponente. Digo um quase silêncio, pois o ar corre voluptuosas mãos pelas frestas
da janela. Assanha-se. Trepida-se. Grita-se toda. Ao longe, carros passam
efêmeros, voltam pessoas. Não silenciam jamais. Não me importo.
“Ouça-nos!”
“Calem-se!” urro,
esmurrando o móvel.
Não me obedecem.
Desrespeitam-me cá
dentro no íntimo. Observo-as. Deduzo ladinas personagens. Ousam-se atrevidas!
Perambulam tais formigas, fazendo-me formigueiro. Matar-me-ão?
Não me obedecem.
Vivem em mim,
dentro de mim e não querem mais fazê-lo. Torturam-me. Como me torturam! Querem
sair. Apenas...
O sacerdote,
católico apostólico romano, olha-me, por dentro, complacente. Não se enoja. O
costume o acostumou ao âmago. A meretriz, não vadia, se não meretriz,
arranha-me as costas com olhos provocantes, mecânicos. O costume acostumou-a ao
forçado. O homem, pernicioso, fita-me curioso e, em lampejo de malícia, sorri.
Temo-o. Pode ferir-me, visto que seus olhos são de morte.
Levanto-me. Apanho
a caneta e o caderno, capa negra, páginas esbranquiçadas. Estou resignado a elas,
personagens.
Escrevo: o padre, a
prostituta, o assassino...
“Letras! Letras!
Letras!” exalto-me, atirando a caneta pelos ares. Pah! Atiro o caderno, capa
negra, páginas esbranquiçadas. Pah!
Um quase
silêncio...
Um comentário:
Eis a inspiração.
Extremamente inspirador seu texto.
Muito bom.
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