quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Tango



Tudo começa com o choro agudo do violino e a sua voz grave proferindo palavras quentes. Já me levas segundo o teu compasso e o meu corpo parece não mais responder por si. Sobes o meu vestido com a intensidade de quem quer tirá-lo até que paras a tua mão no meu quadril e aperta com força. Após um átimo de pausa, continuamos com a nossa dança pelo quarto pouco iluminado, quebrando objetos e rasgando as nossas roupas. A tua barba por fazer me arranha o pescoço e eu me desvencilho de ti, só para que pegues a minha mão e me puxes novamente para me segurar com ainda mais força. Depois de alguns giros, me levas quase ao chão - posso sentir o meu cabelo roçando as pontas no carpete - e me seguras no último segundo. Os seus lábios passeiam pelo meu pescoço muito exposto até que me traz de volta à vertical. E me deixo levar por esse tango, cuja trilha sonora é composta por estalos de beijos, suspiros profundos e gemidos suaves.

A tua mão, com força, agarra a minha cintura me guiando nesse tangueado envolvente e duradouro. Falta-me o ar, tamanha a sua energia ao me mover pelo cômodo. Então tu me pegas nos braços e me gira graciosamente, como quem dá um pequeno descanso ao cônjuge. Nós com as nossas pernas que se tangenciável naquele tango quase tântrico. E pelos seus movimentos de corpo e de lábios vou aos poucos sendo entorpecida e induzida a continuar naquela dança. Tão focados naquele espetáculo que era nosso. Naquele espetáculo sem espectadores, apenas com a gente para apreciá-lo em sua complexidade e sentimentalidade. Se eu pudesse, eu passaria a minha vida inteira apenas vivendo o momento desse nosso tango. Desse nosso primeiro tango, de muitos que ainda estão por vir.

Nenhum comentário: