sábado, 12 de novembro de 2011

Moça bonita, bonita.

Era demasiadamente cheia de si. Muito bonita, é verdade. Os longos cabelos pretos escorridos pelas costas combinavam, quase que cruelmente, com os olhos de cor anil. E a pele era acobreada, sim, o sol lhe dera ainda o bronze só por capricho. E andava sempre com um trança escorrendo pelo ombro. Não tinha olhar tímido, era na verdade bem furtivo, nunca ninguém o vira distraído, jamais se permitia devaneios. E andava calada, de um lado para o outro desacompanhada, com uma seriedade no rosto e, quando achava conveniente, um esplendoroso sorriso no rosto. Ê, todos admiravam. Tanta beleza para uma moça só! E de tão bonita que era, e de tão bonita que fazia vontade de ser, trocava de amigos por conveniência. Cada um tinha algo que detestava. Mas claro, ela prezava por ser bem compreensiva: ela tão perfeita, ninguém haveria de sê-lo também. Então por isso se flexibilizava, mas não aguentava: defeito era realmente uma coisa que lhe fazia mal, cortava, porque é fácil fazer amigo. Então não se preocupava, claro. Tinha lábios rosados e o corpo alto e curvilíneo, e uma gentileza na fala que convencia até os rabugentos. Quantas vezes por lia escutava que era linda, que estava linda, que sempre era linda? Não sabia, mas não fazia diferença, ela sempre sabia. Terminará a vida sozinha, se não, acompanhada de falsidade ou mesmo de seu narcisismo. Não sabia a moça, mas não podia ver: olhar só para si também é cegueira.



Pauta para #SuasPalavras.

Um comentário:

Letícia R. disse...

Perfeito! O narcisismo puro.
E a frase final é nada mais e nada menos que a verdade, pura também.