Eduardo tropeçou nos sapatos pretos.
_Droga! Vou acabar com o lustre!
Voltou-se para o espelho. Passou o pente no cabelo, deixando-o para trás. Estava sentindo calor. Mexeu na fivela do cinto. Respirou. Pegou a gravata do pai e deu a volta no pescoço.
"Obrigado paizão! Esse nó ficou ótimo."
Pronto. Agora era por o terno e já estaria pronto pra sair. Vestiu o terno e ia saindo pela porta do quarto quando a mãe o olhou. A mulher sorriu com escárnio.
_O que foi? A gravata não combinou com a camisa? O cinto está torto?
_Não, você está sem sapatos!
A mulher saiu pelo corredor aos risos e o rapaz voltou para o quarto com a expressão nervosa. Sentou-se na cama e pegou seus sapatos pretos no chão. No ato de calçar o pé direito percebeu que estava sem meias. Levantou-se e foi até sua gaveta e de lá tirou um par de meias pretas e finas. Calço-as com cuidado, no receio de rasgá-las e calçou seus sapatos. Levantou-se e se pôs a caminhar lentamente pela casa. Com um grito se despediu da mãe e saiu pelo portão.
O dia estava terminando, mas o calor ainda imperava. No meio daquele calor o celular tocou no bolso do rapaz. Era um amigo.
Eduardo atendeu e começaram a falar sobre o traje. "E o dimple, você fez?" dizia o amigo do outro lado da linha.
"Dimple?", pensou o Eduardo.
_Você fez?
_Não! Que raio de nome é esse?
_Cara, é a elegância da gravata. Faz um que tenho certeza que ninguém terá coragem de dizer que você não está bacana.
_Ok, mas como se faz isso?
_Onde está sua gravata, Edu?
_No pescoço, onde ela deveria estar?
_Beleza, tira ela daí e usa suas mãos pra fazer o dimple. - Não se ouviu nada do outro lado da linha - Já tirou, Edu?
_Calma, estou tirando. Pronto.
_Ok. Embaixo do nó faça um buraco com os dedos e puxe as extremidades pra trás.
_Certo, mas desde quando você fala difícil?
_Não enche, eu vi na net.
_Pronto. E agora?
_Você está elegante.
_Essa droga de buraco é elegante?
_É melhor você melhorar seu vocabulário, senão o que o homem vai pensar?
_Certo. Vou desligar, tenho que andar logo. Abraço.
Desligou o celular. Continuou caminhando e depois do jantar passaria na casa do amigo para chamá-lo para sair. Cerveja por sua conta, afinal o tinha ajudado com a gravata, para parecer mais elegante. "Dimple!", disse sorrindo.
Parou à porta de uma bela casa. Um jardim grande. "A mãe dela gosta de flores, ótimo."
Voltou umas quadras e parou na floricultura. Comprou um buquê e voltou à bela casa.
Conferiu a gravata, se o cinto não estava torto e fechou o paletó. Segurou o buquê com a mão direita e com a esquerda apertou a campanhia.
Sua garota atendeu. Estava linda.
_As flores são para mim? - perguntou a moça.
_Ah!, querida são para sua mãe. Depois compro pra você.
_Que história é essa, Eduardo? Minha mãe morreu quando eu tinha seis anos. Você sabe disso.
_E aquele jardim lá fora? É você quem cuida?
_É do meu pai. Ele gosta da natureza. Entre.
Eduardo gelou. Um homem apareceu na sala. Bem magro, cabelo castanho claro, óculos e a barba mal feita.
_Você deve ser o Eduardo. Muito prazer. - disse o homem estendendo a mão.
Eduardo apertou a mão do homem estranho.
_Eduardo, esse é o meu pai. Lúcio.
Eduardo a olhou com surpresa. O homem voltou-se para trás e novamente Eduardo ficou sozinho com a menina.
_Por que não me disse que seu pai era hippie?
3 comentários:
adorei o conto.. bem descontraído.
Conto sábio. Nada de não sermos nós mesmos.
Nada de aparentar o que não é nossa essência.
Viva o verdadeiro eu individual, seja isso o que for.
Realmente descontraído, gostei muito. E é bem o que o Renato disse, temos que ser nós mesmos. Sem essa de querer agradar os outros. Temos que estar confortáveis com nós mesmos primeiro.
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