Os olhos pesados anunciam a noite mal dormida; a mente pesada anuncia os fantasmas que voltaram a assombrar os seus pensamentos.
Era uma noite límpida, bonita demais para presenciar tal atrocidade. Mas ele não se importou, apenas fez.
A raiva vazava por todos os seus poros, a arma reluzia enquanto tremulava em suas mãos.
-- Há uma primeira vez para tudo. - disse para o vento enquanto caminhava em passos pesados até a casa com poucas luzes acesas.
Uma batida na porta; um tiro; uma mulher sem marido; um filho sem pai; e outros tantos flagelados que ele fez existir naquele momento crucial.
-- Isso é uma troca de dor, não mais que isso. - disse deixando a mulher e a criança em prantos; mergulhados no corpo inerte no chão; tingindo-se daquele sangue cheio de vida, que vazava em anúncio da morte.
Os gritos sombrios da mulher fizeram lágrimas escorrerem pelo rosto áspero do homem que ligava o carro, e fugia para não mais voltar.
"Isso é uma troca de dor." - ele pensava enquanto dirigia.
Do peito tirava o peso da vingança, que agora fora saciada pelo sangue daquele que tirou a vida de seu pai. E em seu lugar a culpa se instalava, porque ele sempre se considerou um homem de nobres princípios, mas homens assim não roubam um pai de um filho; um marido de uma mulher. Ele abriu mão de tudo para se igualar à condição de monstro; o mesmo que matou o seu pai. Ele era como ele. Esses pensamentos o causaram ânsia de vômito.
Ele para o carro, e vomita tudo o que pode, mas não o que deve, porque a culpa continua lá dentro o dilacerando aos poucos.
Os seus fantasmas nunca estiveram tão vivos como agora.
Isso é uma troca de dor, não mais que isso.
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