segunda-feira, 23 de maio de 2011

Quando o sol se põe, vem o farol



















O mar começou a quebrar contra as pedras perto do farol com suas ondas de fim de tarde, e por mais quente que o dia havia sido, logo logo os deuses soprariam ventos frios vindos das profundezas do horizonte.

Vi uma garota de cabelos curtos e molhados na frente do rosto, de braços cruzados e olhando pro nada, fumando, com uma camisa branca meio molhada de letras garrafais WAY e canga enrolada na cintura feito saia dançando sozinha, como se possuísse um corpo independente e que a imobilidade da garota não fizesse juízo nenhum pra que parasse de flamular. Baden Powell tocava continuamente umas suítes na minha cabeça, bem baixinho, enquanto o sol descia vermelho e atravessava as ondas além dos barquinhos que voltavam do mar.
Não parece o farol da Barra?

Hm?

Não parece o farol da Barra? a garota segurava o cigarro nas pontas dos dedos e mantinha a mão no alto da testa, segurando os cabelos, de braços cruzados e caminhando descalça pra mais perto.
Dei uma boa olhada no farol. Era um cara bonito, imponente, claro. Mas não parecia, nem de longe, o farol da Barra. Hesistei um pouco, cocei a cabeça e respondi sinceramente que não. Ela sorriu, como se já esperasse minha resposta, e caminhou em direção da fogueira, afastando-se de mim. Sorri sem graça e bebi um pouco d’água afundando a cabeça entre os ombros.
Fuma?
Olhei pra trás e vi a garota com um violão na mão e um cigarro aceso na boca.
Você tem?
Ela tirou o cigarro da boca e colocou na minha, entregou o violão e perguntou se eu conhecia alguma música boa.
Conheço várias.

Sabe tocar alguma delas?

Quase nenhuma.
Ela riu e me puxou mais pra perto do farol, beirando as pedras e o mar. Baden Powell fez de silêncio e eu ouvi Pepeu Gomes tocando devagarinho. Acompanhei como pude no violão. Ela sorriu, deixou os cabelos molhados caírem por cima do rosto mais uma vez e começou a cantar ‘Farol da Barra’, mexendo o corpo com o vento e sorrindo por entre os lábios finos e pelas mechas que atravessavam na frente da boca.
Quando o sol se põe vem o farol iluminar as águas da Bahia, no farol da Barra o encontro é pouco a conversa é curta, tudo é tão rápido como se furta, como a luz bate nas águas, como tudo que se passa, quando o sol se põe vem o farol iluminar as águas da Bahia…
Qual seu nome?

Hm, qual você acha que é?

Não sei. Mas vou te chamar de Baby, que tal?
Ela riu e continuou a cantar.
Com tanto cabeludo, com tanto pôr-do-sol, bem cabia uma profecia…
Até o ano dois mil o farol além de pôr-do-sol será o pôr-do-som, onde verás um realejo, onde verás um violão…




#Conto de Felipe F. Castro do blog Janela do Mundo. Todos os direitos respeitados.
  Não por ser meu amigo, nem conterrâneo; mas por ser um escritor fantástico.
  Muito obrigado por essa passagem na Franquia.

Um comentário:

leandroaleixo disse...

Perfeição o por do sol!!!