quarta-feira, 25 de maio de 2011

Companheiros

Ana Júlia acordou cedo naquele dia. Tirou seu pijama, e deitou-se novamente, enquanto num dava a hora do almoço. Ficava trancada no apartamento durante o dia inteiro. Preferia não sair. Não tinha um namorado para apresentar às amigas, e tampouco tinha amigas. Mas ela gostava de ficar sozinha. Sua ideologia lhe era uma companheira fiel. A companheira que criava companhias perfeitas para ela. Incluindo especialmente, um namorado.
Gostava de acordar e passar um bom tempo deitada na cama, vivendo um sonho enquanto sonhava acordada. Sabia fazer isso tão intensamente, que era como se a ideologia não existisse no mundo nem na teoria, nem na prática.
Virou-se para seu lado direito. Ficou imaginando seu namorado ali a seu lado, a abraçar-lhe e acariciar-lhe o cabelo ao mesmo tempo. Se encolhia enquanto pensava. Ele não era um homem perfeito, apesar de ser imaginário. Mas era um homem com quem valia a pena estar junto. Era o homem que ela sempre imaginava que estava ao lado dela. Aquele que lhe fazia companhia independente da situação de um momento, e que lhe abraçava toda vez que sentia medo, e ainda secava suas lágrimas quando chorava, fosse de tristeza, ou de alegria.
E ali ficava. Às vezes olhava para o relógio ao lado da cama e via que era uma hora inadequada para estar deitada e que devia fazer outras coisas. Mas pensava: Deixa que o futuro fica pra depois. E assim cada milésimo se transformava em segundos, que originavam minutos, que se tornavam horas. E no instante em que estava no presente, já não estava mais. Porque um minuto do presente se passava e já era passado. O futuro se transformava em presente a cada milésimo de segundo. Mas ela não se importava. Adorava as companhias e a vida que criava com a mente. Talvez estivesse perdendo tempo ali deitava, imaginando uma vida. Mas não ligava, porque gostava de viver o imaginário. Era uma realidade mais amigável do que a realidade que as pessoas que a ignoravam viviam.
Olhou o relógio. Com muito custo, resolveu levantar-se para preparar seu almoço. Assim como seu corpo tinha fome de bem estar emocional, seu estômago também tinha fome de alimentos, e roncava quando ela se levantou.
Quase chorava. A vida que levava fora da mente, era triste, e por isso quase chorava. Mas então surgia seu namorado imaginário novamente, o verdadeiro namorado ideal, e fazia-lhe companhia. A vontade evaporava. Ele a fazia feliz. E era assim que Ana Júlia vivia.

# Pauta para Bloínquês


Nenhum comentário: