domingo, 16 de janeiro de 2011

Com todo o esforço















E então ele estava ali, em pé, preparado como nunca. Estava para acontecer, o momento pelo qual ensaiara toda a sua vida. Só precisava nadar, nadar rápido como o bicho mais rápido que possa se comparar. Posição de salto, mão nas barras de ferro, coração tamborilando, ouvidos afinados. Ele só conseguia pensar. Sabia exatamente havia porque escolhido a natação: quando quase se afogara aos 5 anos, fora posto em uma escola para que tal drama não mais voltasse a ocorrer. E então, se apaixonara pela água. 5, 6, 7, 8, com 9 anos já era o campeão do seu colégio, e aos 13 da seleção estadual. Amava as piscinas, pensava na sensação fluída quando acordava, sentia seu cabelos molhados quando dormia. 16 anos, em Sidney, despontava na sua primeira competição internacional. Nadar era tudo o que fazia, nadar era o que amava fazer. Se descobriu nas águas, viu seu corpo se desenvolver na piscina, suas duas únicas namoradas foram nadadoras, e sua primeira noite aconteceu num vestiário de alguma competição. E se lhe perguntava o que queria ser quando crescer, não era médico, nem professor, nem policial, nem cientista, era nadador. Com 21, está na final da olimpíada. E antes do apito, a mesma voz de todas as competições ecoava na sua cabeça, e mentalmente ele respondia.
- Você está pronto?
- Estou.
- Tem certeza?
- Estou.
- E se você perder?
- Não vou.
- Sabe que treinou a vida toda por isso?
- Sei.
- Vai!

BÃÃÃÃMMM.
E voluntariamente o corpo dele saltou. Sentiu os braços saírem d'água em colossais braçadas de borboleta, o peito sair e se expandir em respiradas e as pernas ondularem ritmicamente. Quando se viu, já estava fazendo a virada. E seu corpo seguia, cavalarmente, incendiando na piscina. Sentia cada músculo se esforçar, e o coração estremecer com adrenalina. E via a borda, e via a borda, e via a borda e suas mãos então pressionaram a placa. Ele soltou o corpo e afundou. Estava terminado? Era isso? Tinha de subir e ver o resultado. Emergiu. O estádio estava em festa, assim como ao fim de cada prova. Procurou pelo rosto de sua mãe na arquibancada. Não o viu, e não viu a nenhum rosto familiar. E num último ato de coragem, olhou o painel. Em vermelho estava seu sobrenome ao lado da bandeira do seu pais; tudo antecedido por uma majestoso número 2. Seu corpo gelou, seu coração parou, expirou devagar. Havia perdido.

- Você perdeu.
- O que há para ser feito?
- Nada. Apenas chore.

Dolorosas lágrimas formaram-se em seus olhos ao mesmo tempo que um bolo se formava em sua garganta. Frustrado. Havia perdido, e nada mais havia de ser feito. Naquele dia ele foi imensamente infeliz. Mesmo com todo o nosso esforço, às vezes somos derrotados. Pequeno e casual fato.

4 comentários:

renatocinema disse...

Belo texto.

Principalmente o final, sem a "obrigação" que alguns acham de serem felizes.

Nem sempre o final é feliz.

Com isso todos também crescem.

Jéssica Trabuco disse...

Mas até nas perdas dá para sermos vitoriosos, basta ver direito ;)
Ótimo texto.

Insana disse...

Valeu o momento do ter vivido, casa instante.

bjs
Insana

Letícia R. disse...

Oin, texto muito bom!
Realmente às vezes nos esforçamos bastante, e acabamos perdendo. Isso já aconteceu cmg tantas vezes que até me acostumei, rs.

Contudo, mesmo derrotado no desafio, dá para encontrar a vitória no próprio esforço. Afinal, a vida não é feita de vitórias ou derrotas. E sim de ambas. :D