sábado, 8 de janeiro de 2011

Sem palavras para um título



Sozinha, deitada na cama, observando o céu escuro e convidativo que eu podia ver pela janela aberta do meu quarto. Eu estava abraçando. Mas não era a pessoa que eu amava, era meu urso de pelúcia. Ele, e minha solidão me faziam companhia naquela noite. Pude notar logo a “depressão amorosa” me ensinando a ficar em casa numa sexta-feira à noite.
Após minutos, ou horas, que seja, olhando de longe o céu que enfeitava o lado de fora da janela, desviei meus olhos, os que ajudaram meu rosto a ser borrado pela maquiagem que escorria, para um lugar onde estava um objeto que me fez sujar a face ainda mais. Avistei minha mesinha. A mesma em que muitas vezes me sentei para escrever em diários. Mas o problema não era ela. E sim o que havia nela: Um coraçãozinho de pano, vermelho. Delicado, bonito e da minha cor preferida.
Tempos ridículos aqueles em que eu escrevia em diários. Deixei de fazer isso quando comecei a ler páginas passadas. Me senti tão ridícula quando li aquelas em que eu falava de amores, de garotos... Quer uma prova de que ficamos realmente bobos e idiotas quando estamos apaixonados? Bem, escreva um diário. Anos, ou meses depois, quando tudo terminar, leia o que escreveu. Não suportei aquela idiotice toda. Nunca mais escrevi. Outro motivo, é que penso que coisas boas, o que realmente sentimos, nunca conseguiremos descrever. Palavras nunca bastam. Em hipótese alguma. Nem nos textos, nem na imaginação, e muito menos na realidade. Palavras insuficientes, coraçãozinho de pano... Deve se perguntar por que o coração da minha mesinha me magoa e as palavras escritas ou ditas me irritam tanto.

Era dia dos namorados. Meu namorado não tinha muito dinheiro, não trabalhava, então me deu uma coisa bem simples, mas fiquei tão feliz, que nem posso dizer como. Essa coisa simples foi o coraçãozinho de pano. Não estava nem embrulhado, não houve surpresa. Ele me olhou sorrindo, se aproximou de mim e me estendeu a mão, segurando o presente:
- Achei ele simples, como eu sou. Ele é vermelho, da cor que você mais gosta. Decidi comprar ele pra te dar de presente. Assim, toda vez que você olhá-lo, se lembrará de mim. E me verá em você.
Fiquei tão feliz com aquilo, realmente tão simples e tão como ele. Apaixonados vêem mesmo tudo de um jeito mais lindo e impressionante. Eu sorri, emocionada, e então ele me puxou para os braços dele, e me disse:
- Quero estar com você para sempre. Eu te amo tanto! Você é tudo pra mim, Luíza. – E beijou o alto da minha testa, afagando meu cabelo. Me confortei naquele abraço. Era tão sincero, tão doce.
Mas lá estava eu sozinha em meu quarto, e haviam se passado três meses desde o dia 12 de junho. A noite, a sexta-feira em si me convidava pra sair, me divertir, beber e me esquecer daquelas bobagens. Mas alguma fraqueza maldita em mim não deixava. Uma fraqueza que eu não sabia que tinha, até sentir. Estava desconsolada e só. Onde estaria meu namorado? -Quero dizer, ex.- Bebendo? Sorrindo e dizendo coisas bobas para outras apaixonadas acharem lindas? Eu não sabia. O fato é que do mesmo jeito que ele me abriu um sorriso para me conquistar, ele o fechou, para me desiludir. Idiota, não gostava de mim, gostava da conquista. Como eu pude ser tão cega?
Sequei minhas lágrimas, me levantei da cama, caminhei até a mesinha. Me inclinei, e com as mãos uma do lado da outra, segurei o pequeno coração vermelho de pano. Era bonito, macio. Tal como as palavras de Pedro foram aos meus ouvidos três meses atrás. Mas agora eu podia ver melhor. O coração além de bonito e macio, era de pano, falso. Como Pedro.
Depositamos confiança e esperança demais em cima de coisas e pessoas pequenas. Assim como depositei no coraçãozinho e no Pedro. Eu sentia raiva de mim mesma, mas não me culpava. O amor nos deixa cegos mesmo. Surdos também, talvez. Quando volto no dia 12, vejo que fiquei frente a frente com palavras que não diziam nada. Foi bom errar pra que futuramente eu não repetisse o erro. Mas o amor... O amor é tão incerto. Poderia eu me machucar assim novamente, criando expectativa em futuros amores?
Como o amor pode ser considerado tão belo, se dói tanto no final?
Continuei sem ânimo, apesar da noite convidativa. Abri uma gaveta que eu nunca mexia, e coloquei o coração de pano lá dentro. Não precisava e nem podia mais me lembrar de Pedro. Deitei novamente na cama. Olhei mais uma vez para o céu lá fora. Meus olhos pesaram, se fechando. O amor é muita coisa em um só sentimento, até mesmo para uma garota de dezessete anos. Eu estava cansada demais apesar de ter passado a tarde toda no quarto. E então, adormeci. Só o sono podia me livrar daquilo tudo. O amanhã seria outro dia. E entre tantas questões que eu formulava, minha única certeza era que o “para sempre”, fora sempre muito curto.

3 comentários:

BlackRabbit disse...

ótimo texto...
concordo com ele em partes...
=p
se cuida aew...
^^

Jéssica Trabuco disse...

O amor deve ser encarado com aquela frase conhecida: "Que seja eterno enquanto dure".
Mas não podemos esquecer que ele acaba...

Per Sempre Mi Regalo disse...

Bom seu blog.

Vou te seguir!

Abs