quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Entre mimos e medos


... De repente ele pegou no queixo dela, erguendo seu rosto para cima, fazendo seus olhares se encontrarem.
- Não gosto de quando você abaixa a cabeça. – Bernardo disse, fitando-a suave e seriamente.
- É que às vezes não tenho vontade de olhar adiante.
- No que está pensando?
- Bê, às vezes tenho medo sabe... Eu estou bem e do nada surge um medo bobo na minha cabeça. O maior de todos os meus medos, o mais obscuro e idiota de se pensar.
- Ah não, morte, Camila?
- Sim. Tenho medo de perder as pessoas que amo. Não quero ver ninguém partir antes de mim. Seria insuportável viver com a ausência de alguém que amo muito. Penso nos meus pais, em você, nos meus amigos. – Ela dizia.

Ele olhava para ela e sabia que ela estava tentando se entender por estar pensando aquilo. Era ridículo, mas ele conhecia a garota que amava. Ela tinha pensamentos loucos de vez em quando. O de morte era o mais estranho. Mas ele se fascinava em vê-la toda incerta, como uma criança que não sabe para onde ir quando está sem a mãe para guiar. Ela ameaçava chorar, e ele se sentia na obrigação de segurar aquelas lágrimas naqueles lindos olhos verdes de alguma maneira. E sabia como. Era infalível.
- A morte é um mistério, amor. Mas não devia se preocupar com isso. Com os dias vamos aprendendo a viver e vamos superando nossos medos e dificuldades. Você tem medo de ficar só. Mas relaxa, eu estou com você.
- Não funcionou, Bê. Estou com medo ainda. – Olhou para ele, com os olhos lacrimejando.
Ele notou os olhos dela ameaçando chorar. Ah como ela era complicada. Adorava fazer um charminho. Mas no fundo ele gostava disso. Cada um se atrai por algo. E o que fazia Bernardo se atrair por Camila era a sensibilidade e a necessidade de proteção que ele tinha certeza que ela sentia.
Camila não era uma garota facilmente consolável com palavras. Bernardo já estava acostumado. Então não falava muitas coisas. Conhecia a única e melhor solução para qualquer problema dela.

Puxou-a para perto dele no banco do pátio da escola e cedeu o que ela precisava. Simples, e de tamanho único: Abraçou-a. Ela sentiu o abraço, e então afundou o rosto no pescoço dele, como a esconder a face de algo que não quer ver. Ele a deixou se acomodar no abraço como ela preferia, da maneira que ela se sentisse confortável. Não livre, mas protegida de seus medos inúteis ou não.
Enquanto isso, ele dava um pequeno sorriso sem que ela percebesse. As lágrimas que iriam cair se afundaram nos olhos dela e não caíram. Ele gostava de quando eles se abraçavam, porque ela se sentia protegida e ele se sentia orgulhoso por ser o protetor da garota que mais ama. Fazia bem a ele “protegê-la” com uma arma tão simples e tão poderosa.

As coisas não precisam ser grandes. Para ser valoroso, não precisa ser ouro, diamante, antigo, ou o que quer que seja. Para serem perfeitas, satisfatórias, insubstituíveis, de valor único, basta que sejam amigas e sinceras. Amigas como um ombro para chorar e sinceras como um abraço.
Se tem algo que Bernardo aprendeu entre todo o mimo de Camila, é que palavras podem até convencer. Mas nem sempre ajudam. Ele descobriu cedo que palavras realmente são insuficientes.

Muitas vezes nos preocupamos demais com o que dizer para ajudar alguém. Quando o que devemos fazer, é simplesmente dar um abraço. Não que abraçar seja a solução. Mas afaga o desespero e a tristeza de quem abraçamos. E também alivia nossa preocupação.
Era o que Bernardo fazia. Dizia à Camila apenas o necessário a ser dito. Depois, nem mais um a. Apenas uma ação que começa com a: Abraçar.

Porque o abraço sempre será a melhor coisa que poderemos dar e receber. Na tristeza, ou na felicidade. Na tranqüilidade, ou na agonia. Em qualquer momento.

- Está tudo bem agora. – Concluiu contente, bem com si mesmo, ainda abraçando-a.
Ela não respondeu. Mas ele tinha certeza que estava tudo bem. Quando não havia resposta, é porque os sentimentos foram calados. E parecia que o pensamento sobre morte havia parado de gritar dentro da mente da Camila. Ah, ele tinha certeza mesmo. Ela jamais ficava quieta quando estava com medo ou preocupada.

4 comentários:

renatocinema disse...

Ler sobre a reflexão da morte......para quem já a conheceu de perto como eu é duro. O abraço é mais importante do que as pessoas imaginam.

BlackRabbit disse...

muito bom esse txt...
*-*
se cuida aew...

Lívea Colares disse...

Dizer eu te amo é fácil, apenas três palavras que precisam de muito pra serem provadas!

Rodolpho Padovani disse...

É, às vezes tudo o que precisamos é de uma abraço sincero que nos acolha, nem sempre palavras bastam.
Gostei desse.