segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Carta para você 2




















Jéssica,



Não sei se escrever para você é uma atitude correta, mas é uma coisa que do fundo do meu coração, eu precisei fazer. A verdade é que quando eu soube que enfim você voltou,  não soube me controlar. Você bem sabe que me calei durante todos estes anos. Não vou falar agora do que passou, não, isso não. Pelo menos não espero que venha a acontecer ao longo da carta. É justo que eu senti saudade, muita saudade, não sei como esconder isso. Quando você partiu, seu perfume ainda ficou pelo meu quarto e nas almofadas da sala. Foi até bom ele ter ficado, combinou com as lembranças de você na minha cozinha se arriscando em pratos complicados e com as lembranças de quando você voltava da academia acabada, e se jogava no tapete da sala. Quando o tempo foi passando, e essas lembranças tão vivas começaram a minguar, eu respirei bem fundo atrás do seu perfume, respirei fundo esperando você voltar. Você, então, voltou.

Eu sofri bastante. Sofri não porque você não quis assumir o nosso relacionamento aos seus pais, e depois de todos os nossos litígios você subitamente me contou que já estava tudo planejado para você estudar no exterior. Sofri mais, porque ah!, você me fazia bem. Bem de verdade, era boa a sua companhia, era bom quando inventávamos de cantar de noite, ou quando íamos naquele nosso parque. Lembra do nosso parque? Ele ainda está lá, embora a gente não. Eu ia muito lá. Talvez na esperança de você passar correndo com seus fones brancos ou talvez porque o lugar realmente me agrade. Foi lá que a gente se conheceu,  o assunto foi os pássaros, lembro como hoje. A mesa de pedra em que tanto estudamos para provas, o pequeno gazebo em que eu sempre deitava no seu colo e você alisava meus cabelos; o jardineiro Eribaldo, que ainda me conta piadas e vez ou outra perguntava por você, mas com tantas respostas frias e perdidas minhas, ele desistiu de perguntar e até acostumou com a ideia de esquecer, assim como eu. O que mais me fez sofrer foi isso. Tentar te esquecer, tentar desesperadamente te esquecer.

Comecei pelas fotos. Juntei todas e coloquei numa caixa de sapatos, e a escondi no guarda-roupa. Pouco a pouco, com muito esforço, fui deixando de usar os presentes que você me deu. Cheguei até a doar as suas roupas que ficaram aqui. Me desfiz de tudo que lembrasse você aqui em casa, pensei até em me desfazer de mim, porque muito teimosamente, você vivia no meu peito. Mas decidi que não, pelo menos ali você tinha direito. Mas não adiantou. Se eu ia no supermercado, me pegava lembrando do shampoo que você gosta; se ia na sorveteria, lembrava que casquinha com duas bolas de limão e calda de chocolate é o que você sempre pedia; se ia ao cinema, você só sentava nas cadeiras do fundo. De tanto pensar em te expulsar da minha vida, como você fez comigo na sua, eu percebi que minha vida era você e fazendo  que fosse, eu não iria te esquecer. Não que seja psicose, era amor. Vejamos bem, você foi minha primeira e única namorada. Depois de você, não houve mais ninguém no meu coração. 6 anos, Jéssica. 6 anos sem que nenhum sentimento brotasse no meu peito infértil. Sem drama, falo com toda a convicção que ninguém me fez falta, exceto você.

Não sei o que você fez lá na Itália, como andou, como tocou a vida, se a universidade de medicina foi difícil ou não, quantos estágios fez, com quem dormiu. Fiz o que você pediu, não liguei, em nenhum momento, e tentei, do fundo da minha alma, te esquecer. Não consegui. Segui com os planos que tinha, terminei o curso de arquitetura, comprei um cachorro e um apartamento de frente ao mar, como sonhávamos. Espero que você esteja bem. Desculpa por esta carta, desculpa por ter de tocar nesse assunto de novo, um assunto já enterrado ou que pelo menos deveria estar. Mas eu estou te esperando, Jéssica, sempre estive, volta pra mim, vem pra cá. Venha nem que seja somente para conversar. Garanto que agora que somos grandes, podemos fazer tudo diferente, sem medo e sem os erros que cometemos. Comprei até os doces que você gostava, e guardo no peito esperanças. Ainda te amo, meu bem.



Rebeca

5 comentários:

renatocinema disse...

Li seu texto escutando "Lisbeth Scott feat". Nathan Barr - Take me home da série True Blood sugiro, humildemente que faça o mesmo. Toca a alma. A canção e o texto.

Jéssica Trabuco disse...

Eu adorei *_*

BlackRabbit disse...

parece a historia de duas amigas minhas...
._.
e a historia delas naum teve final feliz...
=p

Luana disse...

Gostei daqui... Vou seguir! Passa pra conhecer o meu, depois! :)
Beijos

Rodolpho Padovani disse...

Tentar esquecer é uma tentativa falha, quando houve um sentimento verdadeiro, a pessoa sempre ficar dentro do peito.
Apesar de triste, linda carta.