terça-feira, 21 de setembro de 2010

Dia de matar



Ele foi embora, partiu numa noite dessas me deixando sozinha. Disse que nosso relacionamento tinha esfriado. Disse também que não sabia se gostava mais de mim. Perguntei por que, e ele disse que conheceu uma garota. Tive vontade de bater, xingar, eu xinguei, mas nada disso aliviou a minha raiva. Eu dei tudo que tinha a ele, tudo de bom que passei a vida inteira para construir, eu dei a ele, e ele, ingrato que é, jogou tudo fora. Dias depois o vi, aos beijos com uma loira ridícula. Mentira. Ela era linda. Tinha cabelos grandes, cintura fina, corpo de modelo... E eu, cabelos assanhados, roupas velhas, acima do peso... Tive depressão, não queria mais sair de casa, nem fazer nada. Passava os dias comendo chocolate e escutando rock pauleira. Comecei a fumar. Cortava os braços com gilete. Tanto ódio que senti, nem a dor física superou a emocional. Cortei o rosto, soquei as paredes, mas o ódio só aumentava, dia após dia. Era ódio e era amor, eu queria que ele voltasse pra mim, me pedisse perdão, implorasse pra eu aceita-lo de volta. Procurei uma tal irmã Janaína, ela disse que traria meu amor de volta em três dias. Pediu uma foto daquelas 3x4. Levei. Ela me garantiu que ele me procuraria, arrependido. Os dias se passaram. Ele não voltou. Uma semana depois recebi o convite do casamento dele, ia casar-se com a loira, e ainda teve a coragem de me mandar o convite. Peguei a tesoura e rasguei em pedacinhos, chorando de raiva. Íamos casar, ele e eu, planejávamos tudo, seria na igreja, víamos o preço de alianças, até comprei revistas com vestidos de noiva. Era eu, eu que iria ser a nora da dona Virginia e do seu Arnaldo, eu que iria lavar as roupas sujas do Marcelo, preparar o jantar antes dele chegar do trabalho, ser o ombro pra ele encostar a cabeça no final do dia. A gente combinava, éramos o casal mais lindo do mundo. Porque ele fez isso, me perguntei mais de mil vezes. O ódio agora superou tudo: carinho, respeito, afeto... Decidi. Se ele não vai casar comigo, não casará com mais ninguém. Vou matá-lo. Passei dias arquitetando um plano, roubei uma das armas do meu irmão que era policial. Pensei num jeito de atraí-lo até meu apartamento antes do casamento. Os dias se passaram e tudo se tornava cada vez mais claro na minha cabeça. Dezesseis de agosto era o dia. Acordei mais cedo, olhei o céu da minha janela, tudo parecia até mais bonito. Nesse dia tomei champagne no café da manhã. Aluguei um vestido de noiva, casaríamos antes de ele morrer. Ele e eu, porque daí ele morreria casado comigo, jamais irá me esquecer. Chegou a hora. Liguei pra ele.
- Marcelo, aqui é a Carol. Eu sei que não devia te ligar, mas eu preciso conversar com você antes que se case. Por tudo que vivemos juntos, por favor, venha!
- Você me pegou de surpresa Carol. Tudo bem, eu vou.
Ele veio vestido na camisa preta que dei a ele no dia do seu aniversário de 25 anos. Tive vontade de correr pra abraçá-lo, que saudade dele entrando pela porta depois do trabalho, que saudade daquelas bochechas que só ele tinha, daquele cabelo macio que eu adorava ficar passando as mãos.
- Porque esse vestido Carol? – Ele perguntou espantado.
- Porque vamos nos casar meu amor. – Falei sorrindo.
- Você está ficando louca!
- Não estou não, vem comigo vem?
Levei-o até o quarto. Ele assustado.
- O que você vai fazer?
Cheguei mais perto e tentei beijá-lo, ele se afastou.
- Você não quer me beijar Marcelo? – Perguntei chorando, borrando toda a maquiagem.
- Eu quero ir embora, me deixa sair, por favor. – Ele pediu amedrontado.
- Agora não amor, tenho um presentinho pra você. – Falei enxugando as lágrimas e depois peguei a arma que estava na gaveta.
- O que você vai fazer com isso? – Ele perguntou desesperado.
- Não há tempo pra perguntas meu amor, é tarde demais. Eu só queria que você me amasse, será que isso é pedir muito? É pedir muito? – Repeti gritando.
- Por favor, Carol, para com isso! Eu te dou tudo que você pedir, mas me deixa ir embora. – Ele começou a chorar.
- Você vai embora, mas não pra casa, muito menos pros braços dela. – Eu falava segurando a arma, apontada pra ele.
- Eu te amo Marcelo, é porque te amo que vou fazer isso, você devia me agradecer. Adeus meu amor. – Eu chorava e sorria ao mesmo tempo.
Apertei o gatilho e três tiros dispararam. Ele caiu pra frente. Perdendo a cor, sem conseguir falar. Admirei o seu rosto sofrido e fiz carinho até sua respiração parar de vez. Peguei seu corpo pelos braços e levei até a cama. Abracei-o bem forte. Agora ele era meu de novo.

8 comentários:

Unknown disse...

Isso não era amor! :|
^^

Mas otima história!

;*

André Moura disse...

Adoro contos obsessivos, parabéns. :]

Nina disse...

Nossa! Que belo conto. Obsessão,fixação,frustração...

Parabéns!!!

Julyana ツ disse...

UAU!!!
Fiquei sem palavras lendo esse conto.
Você escreve mesmo muito bem ^.^






;*

Rodolpho Padovani disse...

Nossa, que macabro, haha... mulher obsessiva. Ficou muito bom o conto e bem diferente tbm... vou ver se escrevo algo feliz pra quebrar esse clima tenso das nossas ultimas postagens, rs...

Insana disse...

Lindo conto.

Pergunta: foi um conto?

bjs
Insana

Cristiano Guerra disse...

Nini, algum dia você me diz como consegue pensar em temas tão irreverentes? Mas enfim, seu eu disser que mais uma vez foi fantástico, vai ficar repetitivo. Então vou ficar sem dizr nada dessa vez. ;*

BlackRabbit disse...

q conto massa marida!!!
*______________*
q amor mais sincero...
me lembrou ateh uma musica linda do misfits, helena...
*-*
bjaum...