Respirou fundo o jovem negro e adentrou o quarto do hospital onde se encontrava seu pai, idoso e muito doente que fazia toda força para manter os olhos já fracos abertos quando ouviu a maçaneta da porta girar. Não tinha força para nada, mas sua audição ainda estava boa.
_ Desculpe eu aparecer por aqui, o senhor deve estar odiando. - começou o filho com uma intensa troca de olhar com o pai que perdera a fala devido o forte derrame que tivera.
O velho piscou pesadamente.
_ Nunca aceitou sua cor não é, meu pai? Seu sonho era ter um filho branco ao casar-se com a mamãe, loira e lindíssima. Mas eu nunca tive raiva do senhor por me rejeitar pelo fato de eu ter nascido com sua mesma pele. Agora que não pode me atropelar com suas palavras ásperas como fez até ser frio o bastante pra me expulsar de casa quando eu tinha dezesseis anos assim que a mamãe faleceu, posso te contar que te amo muito, apesar de tudo. Meu maior sonho era poder chegar perto do senhor, te abraçar, chamar de pai, aprender jogar futebol e todas essas coisas de pai e filho. Mas sua aversão era grande demais pra que eu tivesse uma oportunidade.
Os olhos quase mortos de João apresentaram um brilho. E Augusto sorriu furtivamente.
_ Eu tenho de tudo para ser um revoltado pela sua rejeição. Mas todo rancor que eu deveria ter sempre foi dissipado em um amor não correspondido. Por favor, pai... Não me odeie ainda mais. O senhor não pode mexer os braços e retribuir, assim como nunca retribuiu o amor que sempre guardei pelo senhor. Mas o que eu quero fazer agora, não posso guardar. A situação não é a melhor, mas eu não posso perder essa oportunidade agora.
Então o jovem caiu de braços abertos delicadamente sobre o pai, e abraçou-o, como nunca pôde fazer. Sorriu pra não derrubar lágrimas. E João arrependido quis chorar, mas não deu tempo. Seu último suspiro fora no primeiro abraço de seu único filho, o qual nunca quisera amar.
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