quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Você que tem um pai...



Como é acordar com os olhos remelentos, ainda disperso e sonolento, ao ouvir a voz atônita do seu pai a chamá-lo? Como é olhar enraivecido, para ele, por ter sido acordado no meio de um daqueles sonhos em que se está dando uma volta em Paris, com uma Ferrari vermelha e uma garota linda e desejada ao seu lado?
Então você esfrega o dorso das mãos em sua face e se depara com uma cara assombrosa e desesperadora te acordando para ir ao colégio. Como é ter que sentar em frente ao seu pai, enquanto toma café, e ter que ouvi-lo brigar, por mais uma vez, não ter escutado o despertador tocar? Como se sente ao ter que ouvir outro sermão logo pela manhã?
Mochila arrumada, uniforme vestido. Agora você está entrando no carro para ser levado, por ele, ao colégio. Afinal, você estuda perto de onde ele trabalha, então, tem que ir de carona todos os dias. Como é chegar ao colégio com seu pai? Qual a sensação de olhar para seus colegas de turma, eles rindo, enquanto você desce do veículo e a atenção é toda voltada para você?
Ao sair, ele te beija na testa, dá um tapinha nas costas e, por fim, se vai. Você fica corado e, envergonhado, abaixa a cabeça e resolve ir direto para a sala de aula. Como é ser motivo de chacota por seu pai sempre levá-lo?
No final da aula a mesma coisa, ele te busca, já que o horário de almoço dele é bem no horário da sua saída. A rotina se repete. A sua novela parece que não é igual aquelas das 8 que só duram, em média, 4 meses. Diferente delas, a sua parece não ter fim. Vergonha atrás de vergonha, constrangimento empilhado, você se sente cansado disso. Como é ter um pai assim?
Ao chegar em casa, as lições para serem feitas e entregues no dia seguinte, são concluídas forçosamente. Por quê? Aquele pai briga, não deixa, pega no pé. Como se sente ao ter um pai dessa maneira?
Você quer sair à noite com os amigos, doze anos de idade: época de fazer as melhores coisas. Não pode, ele não deixa. Amigos te chamam de menina enrustida. Inimigos zombam da sua cara. Então, você, envergonhado, fica em casa e segue a rotina que ele tanto quer, mas com desgosto e desprazer. O que mais queria era ter um pai de verdade, daquele que te larga, te deixa sair, fazer e acontecer. Queria ter um pai que te deixasse faltar na escola, dormir até a hora que quisesse, sair sem hora para voltar e não se preocupasse com amanhã. Como é viver com um pai diferente do que você deseja?
Os anos se passam, você cresce e não tem mais aquele pai. Você queria tê-lo de volta, acordar com aqueles berros, ouvir suas brigas e, até mesmo, tentado ser um filho melhor. Agora é tarde demais. Tarde para valorizar uma atitude, tarde para reconhecer um erro, tarde para querê-lo de volta. Agora você fecha os olhos e deseja sua presença. Então, se pergunta: “Como é não ter um pai?” Difícil, muito duro, meu caro. Uns dizem que ter algo e perder é a pior das dores existentes, mas eu vos digo: ter tido é a experimentação de ter usufruído de algo. Eu nunca tive um pai, nem bom, nem ruim; nunca senti um grito amargo ou doce; nunca fui abraçada delicadamente ou com brutalidade. Não sei qual a sensação de ter um pai preocupado com meu bem estar. Mas, já que sabes, meu caro leitor, como é ter um pai? Porque eu nunca sentirei na pele como é isso, esse sentimento eu jamais saberei.

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