terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Acordo sozinho.



O céu estava púrpura. Ao crepúsculo, o sol se escondia por detrás da linha do horizonte e com ele o que restava da minha tristeza. Senti-me grato. Deitado com as minhas costas nuas na grama aveludada me distraio observando as primeiras estrelas que surjem na abóbada celeste, agora já completamente negra. Olho para o lado e dou um sorriso. Ver-te sempre me satisfaz. Ao te ver sorrindo de volta meus batimentos viram uma sinfonia terrivelmente bela. Seu rosto irradia uma beleza ameaçadoramente divina, o próprio Narciso desviaria o rosto do seu reflexo para olhar-te neste momento. Seu corpo, banhado pela luz do luar, emite uma claridade prateada que te confere um sutil ar de sublime pureza. Pureza esta que não se aplica ao seu olhar, que é penetrante, incisivo, perfura-me até que tomas conta da minha mente, controla-me. Já não aguento. Apreciar-te apenas com os olhos me fere. Preciso tocar-te. Arranco-te a camisa com as mãos. Pois a sua beleza deve ser vista por inteiro, sem me censurar de parte alguma. Mas em um instante os meus olhos encontram os seus novamente. O meu corpo já não obedece aos meus comandos, mas será que a minha mente também não quer o que estou prestes a fazer? Não importa. Beijei-te. Mas não um beijo ordinário, não um beijo normal. Beijei-te de modo a fazer a terra tremer sob os nossos corpos, de modo a fazer as folhas das árvores farfalharem com vigor. Um beijo que te faz queimar como o veneno de um Escorpião a te penetrar as artérias. Sinto os teus dedos arranhando-me as costas violentamente. Pressionando-me o corpo ainda mais sobre o teu. Dou-me conta de que estar junto não é mais o suficiente. Preciso estar mais próximo. Preciso estar dentro. Dentro de ti. É necessário que nos transformemos em unidade. Razão e emoção já não são coisas distintas. O meu coração aponta para ti assim como uma bússola aponta para o norte. Meus lábios estão em brasa. Minhas mãos percorrem o seu corpo de uma maneira suave e feroz. O mundo alheio a nós havia se transformado em um nada. E o seu cheiro adocicado possuia as minhas narinas, entorpecendo-me. Afastar-me de ti agora seria como se tivessem-me arrancado o coração com um punhal e entregado-o em sacrifício. Quando abro os olhos para ver-te, o que vejo causa-me horror. Estás a desaparecer como névoa. E abruptamente sinto o meu corpo tocar a grama, ja que o seu, antes a me sustentar, não mais existe. Continuo deitado. Estupefato. Petrificado. Junto contigo meu coração foi levado e até a Lua com seu sorriso invertido sente a sua falta. Já não penso mais.

Mas eu acordo sozinho. Sempre o faço. Olho para o lado vazio da cama sem esperanças. E como esperava, você já não está mais comigo. Foi-se embora junto com o sonho do qual acordei. Olho para o boneco do Cosmo na minha estante com o seu sorriso perene, como quem ri da minha solidão. O tic-tac do relógio sobre a mesa-de-cabeceira torna-se ensurdecedor. Até que eu volto a sorrir ao lembrar-me de ti. Já não me sinto melancólico. Afinal, és de todo meu quando me fecho os olhos. A imagem de ti, ainda que na minha mente, me envolve como um banho tépido. Engambelar-me-ei com a sua imagem a me visitar nos meus sonhos, já que no momento é só isso que tenho. Nada mais.

Um comentário:

Fernanda disse...

Que profundo! Adorei, Robert... Não sabia que você escrevia tão bem assim!