Você
chega. Com certa dificuldade, deposita, num canto, uma caixa tosca e
acinzentada. Há outras, também colocadas por suas mãos, desorganizadamente
dispostas pelo ambiente. São altas, largas, compridas e pesadas. Sobretudo,
pesadas. O cômodo amplo comporta-as bem. Está no último andar de mim, do
prédio, a consciência, a cobertura da edificação.
Ignorando a base, você se deixa levar pelas
aparentes paredes, tão belas, atrativas e acolhedoras. Parecem-lhe fortes. Talvez,
até mesmo, indestrutíveis. É por isso que as habita. Você, mais do que ninguém,
precisa de uma fortaleza palpável que o guarde. O exterior, aqui, não arranha,
não fere. O tempo, aqui, não age. É sua garantia. É sua garantia de vida.
A moradia lhe custa o mínimo que possa
pagar. Ela conhece os seus recursos, sabe o quanto pode dispor. Você,
entretanto, não traz o que é pedido. Em lugar, se revolta e traz caixas: as caixas
ingratas que pesam mágoas.
E pesam... Ah! Como pesam...
Fatigada, então, a salvação lhe trai: eu estalo.
O som abafado se repete em todas as direções. Rachaduras ferinas surgem em
superfícies, se confundindo aos arabescos. A estrutura, por fim, crise.
Incrédulo, sem perceber que o rompimento
fora causado por sua própria displicência, você corre em direção à saída,
ofendendo a estrutura que, em vão, tenta se manter de pé.
Você sai, caminha e para, enquanto suas
ofensas se apressam por corredores e cômodos. Olha para trás. Vê-me em frangalhos. A
edificação desaba, pois, também seus braços, mesmo fracos, a sustentava. Dá-me
as costas e se vai, chamando-me “passado”. Deixa as caixas sobre os escombros,
pesando o que ainda sou. Por debaixo das ruínas, a sua voz ecoa: ofensas;
verdades?
Ecoa...
E não sei o que fazer.
Ecoa...
Nenhum comentário:
Postar um comentário