terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A (des)crença




A manhã havia chegado esplendorosamente depois de um anteontem terrível. O céu com um azul lindo e sem nuvens estava delicadamente decorado pelo sol que se erguia cheio de energia boa.
Enquanto algumas pessoas ainda estavam abrindo os olhos em suas camas, calçadas já estavam sendo varridas, pais levando seus bebês para tomar o sol da manhã, roupas sendo estendidas nos varais das casas... E dona Lúcia indo até o mercadinho que ficava na esquina da rua de sua residência para comprar pó de café.
- Que sorte a sua de estar viva, hein? – começou a velha Joaquina mexeriqueira assim que dona Lúcia botou os pés no mercadinho.
- Bom dia. – Respondeu, ignorando-a.
- Foi brutalmente assaltada, seu marido morreu tentando te proteger e você sobreviveu por sorte. Mas ficou viúva e sem ninguém. Deve estar muito decepcionada com seu Deus. Uma vida inteira de devoção, pra receber só desgraça em troca. - debochou.
- Pelo contrário, Joaquina, isso só me fez ter ainda mais fé nele.
- Como isso pode ser verdade, se agora você é uma pobre coitada?
- Sou uma vitoriosa. Ainda que tenha sido triste demais, devo reconhecer que tive um marido maravilhoso que chegou a morrer pra que eu vivesse. Depois, eu poderia ter morrido junto. Mas estou aqui viva, e mesmo depois de toda desgraça continuo cheia de saúde e com toda fé Nele pra superar o que houve há dois dias.
A outra silenciou absolutamente sem jeito. Dona Lúcia sumiu no corredor do mercado, segurando o choro. A saudade de seu marido e a dor da perda parecia dilacerar-lhe a alma. No entanto era só uma sensação. Porque sabia que continuaria inteira apesar do sofrimento. Deus é maior que tudo sempre.

2 comentários:

renatocinema disse...

O sofrimento por maior que seja nos leva a reflexão...e a Deus.

Gostei do final.

Ana Carolina disse...

Ótimo desfecho!
A descrição do início da manhã está incrível, fez-me ter vontade de acordar cedo pra ver o nascer do sol.

Ana Carolina