segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Succubus



Um amor além da compreensão humana. Além da limitação cognitiva compartilhada pelos meus semelhantes. Um sentimento tão intenso que seria capaz de reduzir a massa encefálica da pessoa que ao menos pensasse em entender a sua complexidade. Mas nessa teia confusa de complicações, uma coisa era simples: o porquê de eu amá-la. Os traços do seu corpo milimetricamente pensados, desenhados e produzidos como um clássico Valentino. O som da sua voz é uma cruza entre um noturno composto e executado por Chopin e o sibilar sussurrante do vento se sobrepondo ao silêncio absoluto de uma noite de lua cheia. O cheiro que emana de sua pele é o suave aroma adocicado de alecrim trazido pela salgada brisa marítima.

Apesar de sua tão imaculada beleza, indescritível era a dor que eu sentia quando passavas por mim no corredor deixando para trás apenas aquele cheiro espalhado pelo balanço do seu cabelo. Aquele cheiro capaz de me drogar. A sua indiferença por mim só não era maior que o meu amor. Afinal o meu amor era maior que o mundo. Éramos como Apolo e Dafne, exceto que Dafne, ao menos, sentia repúdio por Apolo. Ao contrário do que muito pensam, o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença. E essa minha insignificância perante a ti me consome do âmago para fora. Como um animal me comendo a partir das entranhas. Eu mal tinha forças para secar as minhas lágrimas, afinal elas se secariam sozinhas, eventualmente, antes que as próximas viessem para tomar seus lugares.

Mas em mim, o que eu sentia ainda era lindo. Não havia manchas na brancura da pureza do que eu sentia por ti. A monstruosidade criada por esse sentimento só existia no exterior. Nas olheiras criadas, nos cabelos brancos que surgiam, no semblante eternamente triste e no corpo magro e sem forças. A minha beleza fora integralmente sugada pelo culto à sua. Sua essência está presente ora nos elementos que me rodeiam, ora no vazio que subitamente se forma ao meu redor. És o tudo e o nada. Sem você... sem você... não dá para cogitar o "sem você", pois não há vida sem o meu amor por ti. E não há sorriso sem a dor de não te ter, pois essas sensações são complementares; vida e amor, sorriso e dor.

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