Vejo-a
entrar no cômodo. É uma mulher alta, negra, magra. Os cabelos, cacheados e
volumosos, cumprem a sua função: delinear-lhe o rosto. É lindíssima! Usa uma
camisola amarela. É hora de dormir. Procura a cama e não a encontra. Ali há
somente uma cadeira e uma penteadeira. Sobre ela, a escova. A mulher se senta
diante do espelho, e se olha nos olhos. Não sorri! Não tem expressão alguma.
Não nos conhecemos. Ela sequer imagina que existo. Só eu posso vê-la.
Espanta-se!
Passa as mãos sobre o espelho. Está quebrado.
Indaga-se:
_ Como se quebrou?
_ Oras! – responde o reflexo. – Quebrando-se!
_ Quero detalhes.
_ Acredito que o deixaram cair.
_ Quem?
_ Você.
_ Deve estar enganada! Sempre tomo cuidado
com aquilo que tenho.
_ Não estou! Há muitos anos você o derruba
e permite que outros também o façam.
_ Poucas pessoas entram aqui. Apenas meu
marido e nosso filho. Não abro meu quarto às visitas.
_ Ambos já o quebraram diversas vezes! Ele
tem sido danificado desde o seu nascimento.
_ Meu Deus! Não consigo me lembrar. Estou
louca?
_ Não. Apenas cega.
_ Mas eu a vejo!
_ Enxerga o exterior. Só...
_ E que mais devo enxergar?
_ Feche os olhos e logo verá!
A
mulher os fecha. Rompe-se. É, agora, vazio. Eu não a vejo mais. Vejo o cômodo, a
cama, o armário.
Vejo,
também, a penteadeira. Sobre ela, a escova.
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