sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Pequenos ladrões



- Agora você se abraça bem forte, assim. – Disse o menino fazendo a demonstração para que a menina copiasse.
Então parei de andar pela praça e sentei num banco próximo ao que eles se sentavam, só observando enquanto eu sorria ali sozinha não só pelo meu fascínio por crianças mas também pelo encanto que me transmitiam naquele momento.
- Mas Aninha, tem que ser forte. Como você quer voar se abraçando sem força desse jeito? – Resmungou de bico.
Achei que fossem discutir depois disso. Mas a menininha obedeceu-o corretamente e ainda riu furtivamente. Eu também achei engraçado o jeito dele e aposto que era disso que ela também ria.
- Vamos! – Chamou ele gritando enquanto se levantava do banco e punha-se a correr pela praça. Ela seguiu-o e ficaram os dois perambulando às pressas.
Estavam voando. O chão era céu e os arbustos eram nuvens. Um bebê deixou cair sua chupeta e quando a mãe foi apanhá-la, Aninha foi mais rápida e devolveu-a.
- Cuidado com a chupeta do seu filho, as formigas gigantes querem destruir a felicidade dos bebês que são as chupetas.
Voltaram a voar com sorriso heróico nos seus rostinhos ingênuos. Pequenas formiguinhas eram monstros imensos tidos como piores vilões pelo que pude notar na brincadeira.
- Aninha, Pedro, vamos pra casa! – Gritou chamando a mãe que segurava o bebê cuja chupeta Aninha tinha salvado.
Correram os dois seguindo a mãe que já se ia.
- Corre mamãe, as formigas gigantes estão por toda a praça, vão roubar a chupeta do Andrézinho – advertiu Pedro tão firme que eu quase acreditei.
Então do banco em que eu estava fiquei olhando-os correndo enérgicos em volta da mãe que caminhava pacientemente com o bebê no colo até que sumissem do meu campo de visão. Sentia minha boca quase travar, e eu não conseguia parar de sorrir. Que encanto as crianças. Pequenos heróis da dura vida e verdadeiros ladrões de sorrisos e alegrias alheias. Pudera um adulto imaginar beleza para assim enxergar maravilhas num mundo que ele mesmo tornou tão negro justamente por ter se esquecido de como criar vida em objetos inanimados, de como enxergar o lado bom das coisas ruins ou de simplesmente imaginar algo bom e bonito em situações terríveis ou normais. Se lambuzar com comida era divertido, uma pequena poça de água era um oceano todo, folhas de árvores e arbustos eram dinheiro... Mas no mundo dos grandes dinheiro é um papel que dá poder a uma grande minoria, e um copo com água cheio só até a metade infelizmente tem a outra metade vazia.
A vida é infantil demais pra ser embalada apenas com seriedade e preocupações. É preciso fazer artes, se lambuzar de vez em quando e falar sozinho, esquecer de fazer algumas coisas. É preciso aproveitar e embalar da maneira mais criança possível, porque uma hora a vida também precisa adormecer.
- Crianças, eduquem os adultos. Eles se esqueceram de como serem felizes – Sussurrei baixinho como se todas as crianças do mundo fossem me ouvir.

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