domingo, 2 de setembro de 2012

II Semana Especial: Que droga é essa? #Dia02


Entre vários pequeninos, havia uma pequenina. Ela sentava sempre no meio da sala, na primeira carteira. Seu cabelo escorrido sempre bagunçado caía-lhe sobre as orelhas pequenas. Adorava quando a professora lia contos de fadas. Seus preferidos eram Branca de Neve e a Bela e a Fera. Fascinava-se pelo príncipe que salvava a princesa do feitiço da madrasta má e pela Fera que tem toda sua amargura quebrada ao se apaixonar pela doce Bela. Então pegava seus lápis e encantada com aquilo desenhava corações no caderninho, porque achava que amor era isso, desenhar corações.
E a menininha cresceu. Passou a perceber que amor era admirar alguém que sequer lhe dava atenção. Teve o primeiro namorado e achava que amor era dar beijos, andar de mãos dadas. Mas, o namoro um dia acabou. Que amargura hipócrita essa que chamam de amor, pensou. Amor é uma coisa feliz que o coração inventou para disfarçar a dor quando um namoro acabasse. “Por que está chorando?” “Porque eu amo ele”. Amor é só um motivo de explicar o inexplicável. Pois como pode alguém chorar de amor por alguém que o fere?
Mais um namoro precipitado pra tapar o buraco que o outro namoro infeliz deixou. E mais buracos foram abertos. Que droga é essa que não morre e nem se substitui?
E foi preciso muitas lágrimas, dor e solidão para aquela menininha crescida entender. Entender que amar não só é necessário como essencial. Porque o amor não é uma coisa só, mas tudo que jurava ser em cada fase que passou. Amor é desenhar corações, beijar, andar de mãos dadas, é sorrir e chorar de soluçar – pode ser de alegria ou de tristeza. É o que nos faz sentir vivos quando tudo parece estar tão morto quanto uma formiguinha que alguém pisoteou com força. É estar pisoteado, sem forças e saber que ainda pode se levantar simplesmente porque ainda sente a dor e a alegria de amar. É a sementinha que a gente planta, rega e cuida todos os dias para desabrochar em forma de flor. Às vezes ela murcha por falta de alguma de suas necessidades básicas. Mas basta um pouquinho de água, de atenção, e ela renasce linda.
Como um jardim, às vezes enche-se de pragas, de secas e é preciso estar preparado pra isso.
Amor é um verbo cuja ação é amar. Amar como a menininha que amava os contos de fadas pelas suas belezas internas em cada conto. É aceitar, valorizar, respeitar, proteger, admirar, querer bem e querer mais a cada segundo. É andar de mãos dadas para que ele não fuja; é liberar pra ver se ele volta; é dar um beijo para demonstrar ternura.
Alguns podem achar que amar é tão sem sentido quanto achar que amor é desenhar corações. Pois então no quarto frio, assopro com meu hálito quente o vidro da janela. Ele se embaça, e esboço um coração. A pequenina chamava-se Mariana, e essa, sou eu.
Amor, por mais infinito de significados e descrições, de razões de ser e existir, por mais incompreensível que pareça ou que realmente seja, faz todo o sentido. Sem sentido é viver sem ele. Essa droga? Bem, essa droga é o segundo ar que a gente respira.
Então amo como quem estoura plástico bolha ou come chocolate. Pode parecer sem razão e é por isso que é gostoso. Pra ser bom, não precisa ser racional.

Um comentário:

Deise Lima disse...

Ah que delícia de conto!!
Quando cheguei na metade me lembrei da música "If I fell" dos Beatles a parte que diz:
" And I found that love was more
Than just holdin' hands" por que é bem isso que vc disse é tanto, é tanta coisas!!! São coisas simples como corações rabiscados e mais sempre mais!
Abraço!