É um feixe da luz da Lua Cheia que entra pela veneziana. É o vento congelante a me arrepiar a nuca. É o pensamento em ti a me devastar como Vesúvio à Pompéia. Já não sei mais porque insisto, porque existo. As metáforas já estão repetitivas e soam como eufemismos aos meus ouvidos. Estou descendo, cavando uma depressão, um abismo que não cessará até que os meus dedos vermelhos toquem o fogo que reside no interior da Terra. Ou até que eu reapareça pelo outro lado como uma fênix que após queimar-se resurge revigorada das cinzas. Não sei. Apenas o tempo poderá me mostrar como eu terminarei. Abrirei os olhos para a luz após a eternidade a olhar para uma escuridão sufocante? Sucumbirei à insensibilidade do corpo e mente, aonde restará apenas um recipiente sem alma?
Estou sentado à mesa. Ao alcance da minha visão, apenas uma linda mulher fracamente iluminada pela luz do luar. Não lembro o nome da garota. Mas lembro que ela me ofereceu a solução para o meu problema. Meus olhos recaem sobre a mesa. Meu corpo está rígido na cadeira. As minhas pálpebras congeladas. Uma arma. Sei que está com apenas uma bala. Mas não sei qual tiro será o fatal. Talvez seja o primeiro, talvez o quinto. Essa é a grande graça doentia do jogo. Os Deuses me pouparão da morte para que eu passe a vida aos poucos morrendo por amor? Ou me pouparão da vida para que eu goze do esquecimento eterno? As chances não são muitas de a bala me acertar no primeiro tiro, mas isso não impede que meu suor pingue com estrépito na mesa de carvalho. Uma munição e seis lugares na arma. Qual a porcentagem? Minha cabeça não funciona mais. O olhar da dama à minha frente me pressiona. Queria lembrar como vim parar aqui. Sei que não fui forçado a nada. Mas agora as minhas mãos, entrelaçadas acima do joelho, hesitam em se mexer, como se um simples movimento do dedo disparasse a arma. Desisto. É tudo ou nada. Com as minhas mãos tremendo, tento com esforço separa-las. Com a minha mão esquerda, pego a arma de fogo. Um pouco mais pesada do que parecia ao olhar. A bela mulher dá um sorriso enviesado.
Encosto o cano frio na minha têmpora molhada pelo suor que corre pelo meu rosto. Não vejo a hora de chegar o fim dessa insana Roleta Russa, seja de um modo ou de outro. Só posso atirar uma vez, a mulher foi bastante clara quanto às regras. Com a mão direita alcanço um copo de pura vodka sobre a mesa e bebo três grandes goles. Sinto-me pronto. As batidas do meu coração podem ser ouvidas a quilômetros de distância. Mas eu só quero acabar com isso. A arma está engatilhada. Eu fecho os olhos. Foi instantâneo. Apareceu-me um rosto na escuridão que eu enxergava. E um nome ecoava na minha mente. Sabia que essa era a ultima coisa que veria, ou não. Por que sou tão pessimista? Tudo é irrelevante. Então, com um gemido de esforço, puxei o gatilho.
Um comentário:
O blog é ótimo, parabéns!
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