domingo, 22 de julho de 2012

Do que é imenso

If I lay here,
If I just lay here,
Would you lay with me and just forget the world?
Chasing cars - Snow Patrol


Chegou cansado, e ela o ajudou a tirar a camisa. Com um beijo arrancou-lhe um sorriso da face desconsolada. Então ela o conduziu até a cama, e deitou-se de frente com ele, que a olhava em seus olhos claros enquanto ela lhe acariciava o cabelo para que ele relaxasse. Ela sempre fazia assim quando ele chegava exausto, nervoso ou quer que fosse o motivo de não ter os lábios repuxados num riso. Uns minutos e um último reflexo dos olhos dela olhando nos dele, e adormeceu tranqüilo, confortável.
Acordou na manhã seguinte depois de dormir sem se mexer. Foi sorrir procurando por ela na cama, mas abriu os olhos e ela não estava ali.
Levantou sem enrolar e se aprontou pra mais um dia. Antes de sair do quarto, olhou desconcertadamente uma última vez para a cama. Olhou como um mendigo morrendo de fome que vê alguém comendo um salgado e quer um pedaço, implorando com os olhos para ganhá-lo... Como uma criança que chora por um brinquedo ou um doce. Olhou para aquela cama em que dormira com ela na noite que se passou, perguntando se ela voltaria e ficaria ali com ele se ele deitasse novamente.
Saiu para as ruas onde ela devia estar com ele para que a mimasse num beijo surpresa que ela sempre sabia que aconteceria. Olhava em todos os cantos, perdido para quem o visse. Mas o fato é que só enxergava os olhos dela – aqueles olhos cor de dia que ele tinha como a própria vida, porque era neles que ele ficava refletido, era neles que ele sabia quem era e que era feliz.
De repente resolveu deitar-se numa calçada qualquer. E olhava para o céu azul como os olhos dela, esperando que de lá ela descesse, e deitasse com ele sem se importar com o mundo e muito menos com as pessoas que passavam por aquela calçada.
Porque o preto e branco não teria importância desde que ela estivesse ali para fazer-lhe enxergar colorido. Ah, se ela estivesse ali ele a olharia nos olhos como sempre fazia porque essa era sua demonstração de amor maior que um ‘eu te amo’ sussurrado para o mundo, que na verdade, era ao ouvido dela.
Fazia apenas um dia. Ele a queria de volta para que pudesse ficar bem. Nem ele mesmo saberia dizer se imaginou ou se foi real, mas na noite que se passou ela voltou e deitou com ele. E ele não perdia a esperança da possibilidade dela aparecer outra vez.
Então agora ele parecia um sem teto deitado na calçada. Ninguém que se desviava dele para passar pelo local entendia. Mas ele não via pessoa alguma, só olhava para cima, para a imensidão do céu azul. Porque o amor desconcerta as pessoas e tem o poder de arrancar-lhes o teto às vezes e fazer com que se pareçam loucas mesmo. E Rodrigo era um louco para mais. Um louco cheio de dolorosa saudade tentando de alguma forma trazer de volta a presença da dona do seu amor, do ar que enchia seus pulmões de vida, da sua Laís.

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