terça-feira, 5 de junho de 2012

O anel que a fez moça



Maria Elisa achou um anel dourado com uma pedrinha de strass no meio que lhe chamou atenção mais do que todas as outras coisas que também havia encontrado no pequeno porta-jóias da mãe. Colocou-o no dedo que vem antes do menor dedinho da mão - a mamãe tinha um anel no mesmo dedo e nunca tirava ele.
Esticou a mãozinha em frente ao rosto. Sorriu faceira e correu à procura da mãe. Mas quando abaixou o braço, o anel escorregou sem dificuldade de seu dedinho.
- Mamãe – Chamou em tom manhoso a mãe que lia um livro na sala de estar. Esta ergueu os olhos para a menina, que parecia insatisfeita. – Tava certinho no meu dedo, mas ele caiu – disse fazendo bico enquanto mostrava o anel segurando-o com dois dedinhos.
Estela quis repreendê-la por mexer nas coisas. E acabou por sorrir sem querer, inevitavelmente.
- Meu amor, ele não cabe em você. Vai caber quando você ficar moça. Mamãe tinha quinze anos quando ele serviu. Foi o vovô que deu de presente.
- Mas mamãe, eu quero ele.
- E você vai ter, filha. Mas quando ficar moça.
Naquele dia, cada minuto parecia ser uma idade a mais para Maria Elisa. E quem poderia dizer o contrário, se ela sentia que era assim?
Estela chegou ao fim da tarde para pegá-la na escolinha. Ela pulou no banco traseiro do carro, com aqueles olhinhos redondos e negros que faiscavam em brilho, com um sorriso que ia de orelha a orelha.
- Mamãe, eu virei moça! – Afirmou pensando no anel que tanto queria.
- Meu anjo, leva um tempo pra se tornar moça, leva uns anos. Você vai ser uma daqui um tempo. – Estela explicou.
E todo aquele sorriso que lhe roubava a face foi desmanchado junto com o brilho dos olhos que deu lugar a lágrimas que num paravam de jorrar nunca. Tamanha era a vontade de que aquele anel coubesse em seu dedo, que jurava que já estava moça e acreditava nisso. Mas a mamãe disse que não, disse que leva uns anos.
- Que dia mais triste na minha vida – Disse chorando, pensando alto consigo mesma a menininha.

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