Dias atrás
- Estou mandando que você ajoelhe. Ande! - falava ele, enquanto aquele cinto de couro nobre era batido violentamente na nádega direita, acompanhada de uma lágrima pesada e dura que tocava o tapete de persa do meu quarto.
Um movimento brusco foi realizado e as gotas dos meus olhos começavam a encharcar o tapete que mamãe tinha tanto zelo, juntamente com as gotas de sangue que percorriam meu corpo desfigurado.
Mais uma cintada, forte, violenta e deprimente. Mais uma penetração, um movimento de fúria, desejo, obsessão. Mais uma lágrima quente, espremida dos meus olhos e queimando minha face desconsolada.
- Vira! Eu mandei você virar agora! - repetia ele, puxando meu cabelo para que ficasse de frente ao seu corpo. Agora era a minha vez. A pior, pior de todas.
Com os olhos fechados, prendi a respiração e comecei a realizar os movimentos que ele queria. Com lágrimas, com soluços quase imperceptíveis e com desgosto. Ódio. Rancor. Nojo!
Terminado a "ação" do dia ele foi trabalhar e me deixou em casa sem ninguém para vigiar-me.
Arrumei as malas desesperadamente e saí da ilha onde nasci e vi a vida da forma mais amarga que alguém pudesse ver.
Tinha que manter relações com meu próprio pai e fazer os serviços domésticos que minha mãe obrigava a realizar. Todos! E ainda, no final da tarde, tinha que pescar e trazer sempre quatro peixes para o jantar.
Dura vida. Não aguentava mais isso!
Peguei as malas e notei que havia um navio parado no porto, em frente a minha casa. Fui correndo e entreguei as poucas notas que me restavam.
- Sabe que não pode entrar aqui sem seus pais, né? Você é menor de idade, meu rapaz.
- Deixe eu ir com vocês, eu preciso ir ao hospital. Estou muito mal.
Por ver meu estado físico, o rapaz me deixou entrar de graça e mostrou onde seria meu lugar de repouso.
Agora o navio está me levando para longe, bem longe das minhas mortes diárias. Longe do meu desgosto. Longe de um lugar que não tem amor, apenas uma espécie de tortura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário