O sol cegara. Sua pele clara reluzia naquela manhã que, se alguém não soubesse o que acontecia, pensaria ser igual a todas as outras. A moça, de cabelos castanhos e esperança no bolso, sabia muito bem que do mesmo gente que a gente constrói expectativas, a gente também demole. É tudo muito rápido. Um dia pacientemente no seu quarto, no outro, encontrando numa manhã ensolarada aquele que lhe ganhara imediatamente. E agora, sentia que o amor ia morrendo, pouco a pouco, dia a dia. É que amor, a gente idealiza. Pensa que vai ser somente uma coisa linda, que a gente põe no bolso, e se soprar, é feito purpurina. Findou que, se tivesse bem pensado, não haveria de ter se entregue ao primeiro da rua. Colocou seu vestido mais folgado. Não se perdoaria se voltasse para aquele quarto. Abriu a porta de casa e saiu para a vida, sem nem levar celular no bolso. Caminhou com a praça mais próxima, sandália nos pés. Com o tempo a gente percebe que chorar, mas chorar de verdade, traz o riso de volta.
E então já estava ali, sentada, sem muita premissa se perguntando do porque ainda chorava. Outra coisa que a gente também aprende: as coisas findam que já não interessam, que não fazem sentido. O amor, apesar de genuíno, a gente pode desmanchar. E amar mais, e amar outros. Naquela manhã se prometera que não deixaria que nada a prendesse. Nem quartos, nem amores.
Voltou para casa, rasgou as cartas e escondeu as músicas tristes. Tomou um banho para lavar o cabelo e deixar escorrer, de uma vez, as mágoas. A gente muda assim: com as coisas pequenas; de cada gesto libertário aconteceu que a própria moça se sentia mais livre. Abriu as janelas do quarto e convidou que o vento entrasse.
Novos ventos. Rumos também.
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