domingo, 25 de março de 2012
Simone
Às vinte e duas horas, a última luz acesa daquele apartamento apagou-se. Um homem saiu à rua. Foi-se.
Simone sentou-se no canto do quarto. Vinha da rua o único fio de luz que iluminava o ambiente. A noite estava lindíssima. Ela não se importava. Apertou firmemente os braços contra os joelhos, escondendo a cabeça por entre as pernas. Queria fugir de si. Desintegrar-se. Mas não encontrou maneiras e chorou.
Por uma hora ou mais, se quer pensou... Apenas chorou.
Quando cansou, levantou e olhou-se no espelho.
Esmurrou o objeto, quebrando-o em centenas de pedaços.
“Velha!” Gritou.
Não sentiu o sangue escorrendo pela mão. Não o viu sujar a camisola branca. Aconchegou-se na cama e apertou os travesseiros junto ao peito. Um vazio de morte dominou-lhe a alma. Ele não voltaria mais. Abandonara-a. Tomara a decisão por apaixonar-se por uma garota de vinte e quatro anos. A jovem seria capaz de dar-lhe as coisas que a esposa não seria: um filho e o frescor da juventude.
Simone, além de quinze anos mais velha, era estéril.
Perguntou-se:
“De quê vale-me um matrimônio de quase duas décadas, se Frederik troca-me pela primeira ordinária que encontra? Calhordas! Hão de ser imensamente infelizes.”
Ofendeu-os, ofendeu-se.
Até que deu-se conta:
“O que farei de minha vida? Tudo o que fiz foi cuidar de Frederik até agora. Fazê-lo o homem mais feliz do mundo; ou melhor... Pensava fazê-lo!”
“Eu falhei! Falhei! Falhei!”
Acreditou-se, então, inútil e passou as mãos sobre a barriga. Foi até a janela. Atirou-se.
Não saberia cuidar de si, apenas dele.
# Todos os direitos pertencentes a Rafael Alvim. A Rafael e ao seu desmaquillador, a gratidão dessa Franquia. Muito obrigado, Rafael, por entrar na odisséia de ser contista.
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3 comentários:
Triste.......lindo, Nelson Rodrigues puro.
Adorei.
Eu que devo agradecer!
Muito obrigado =)
Uma delicia...
nkjs Insana
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