sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Melancolia

















Sentou na cama. O silêncio da cidade permitia ouvir até os suspiros do vento. Ela se valeu do silêncio, sabia, de alguma forma, que o que lhe faltava era isso. O silêncio não serve para ninguém lembrar de nada, serve para não se esquecer*; lera em algum lugar. O momento cabia perfeitamente. A noite era limpa, um céu de um azul pesado se estendia até onde se pode ver, encrustado de estrelas. Da cama se podia olhar pela janela, quarto andar, respirou fundo. Sabia que ninguém ouviria. Esticou o braço e pegou o violão adormecido havia horas encostado na cabeceira da cama. Dedilhou suavemente as cordas, rosto ainda voltado para as estrelas: era um som triste. Fazia 2 dias de plena melancolia, e em mais dois acabaria a Primavera. Duas tragédias. Pôs-se a tocar baladas de Bossa Nova, baixinho, baixinho. Doce e triste. Depois da segunda, ficou agoniada, aquele peso no peito! Levantou-se e sentou na balaustrada da janela. Mal acomodou-se, o primeiro vento frio veio-lhe acariciar o rosto. Encostou a cabeça na parede. As estrelas agora acenavam determinantemente, ela não se importava. Apoiou o violão no busto, cantava serenamente músicas de amores quebrados. Antes os tivesse tido.





* Frase da renomada Pipa, adaptada.