quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Aquele que não merece você

Querida Charlotte,
Venho por meio desta para afanar a minha alegria e levar desconforto à sua.
Quando nos conhecemos naquele restaurante luxuoso, em Leicester Square - Londres, meus olhos tremeluziram ao notar o que estava prestes à surgir.
Ah, minha cara ex-futura-esposa, sei que tudo está confuso nesse intermédio de carta, mas as lacunas trarão a clareza, em breve.
Eu sei que estás pronta, com seu vestido engomado, os ombros de fora e aquele lindo colar que te dei, em seu pescoço, delineando seu colo encantador. Mas devo confessar que não aparecerei. Portanto, não se dê a vergonha de aparecer na igreja, pois não estarei no altar a sua espera.
Talvez você me xingue de cafajeste, de cachorro e entre infinitos adjetivos que você teria razão em mencioná-los. Talvez!
As agruras da vida fez com que eu me tornasse o que mulher alguma desejaria. Eu sou um ladrão especializado em envolver-me com mulheres. Ah, e ricas! Envolvo-as, apaixono-as, roubo suas joias, carros, casas e, às vezes, quando não tem muito jeito, caso com elas e negocio no cartório a repartição de bens. Acabo pegando metade da grana, o que não se torna um negócio bom pra mim. Às vezes, sexo basta, numa noite e já tenho-a na palma de minhas mãos. Mas devo confessar que o inesperado aconteceu: apaixonei-me por você. Seus olhos são o bálsamo que sara as feridas incontritas em meu peito; seus lábios não são mel, pois ele enjoa, mas são o néctar da mais pura flor que eu viveria a vida para senti-la e cheirá-la bem próxima da minha; sua pele é o óleo deslizante sobre a minha, para abastecer a maciez e a necessidade que ela tem da sua.
Sei que não mereço você, por isso envio-te esta carta. Eu não te roubei. Nunca! Não consegui. Não fui capaz. Estaria me casando por negócio, mas o amor estaria no meio. Não posso!
Eu amo você, mas a minha vida de salafrário não merece a pessoa estupenda que és.
Fique com meu amor; carregue a minha felicidade, pois, a dor de não ter você, eu sei muito bem onde irei carregá-la: dentro de mim, pra sempre!

Daquele safado, cachorro e ladrão,
mas que não teve coragem de destruir um amor real.
Daquele que arrisca sua própria vida iludindo pessoas,
mas não arriscaria iludir a vida de alguém que tornou-se a sua!

Apesar de tudo, com amor,
Frederico.

Um comentário:

renatocinema disse...

Lindo.......apesar da dor.

O final me lembrou o cafajeste clássico.

Parabéns