sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Semana especial: O princípio do desamor #Dia02




















Estavam ali mais uma vez, João e Maria, com seus corações ardendo. Apesar de se esforçarem, de se empenharem, de tentar entender, o amor é muito maior que a gente. Achamos que podemos controlá-lo, até que ele aparece de vez e prega a peça. E aqueles corações ardiam. Mas não era de dor ainda. Era de amor. E mesmo sem saber ao certo o que estava por vir, ambos os corações estavam dispostos a entregar-se, a embaraçar-se em uma única batida sincronizada pelo ritmo veemente abrigado naqueles músculos recém apresentados a pureza de tal sentimento.O coração de João, incontido, sentia intermitentemente o de Maria pulsar, querendo mais, pedindo mais e ambos ansiavam por aquela entrega, pois não importava o depois, era o agora que eles pensavam, que eles sentiam e cediam. O olhar dos dois se encontrou, transmitindo muito mais que simples palavras. Os corações bombearam amor pelas artérias e então souberam que seus destinos estavam entrelaçados, não apenas no presente, mas talvez para sempre.


Quisera.Quiseram. A tímida lembrança ousara passar na cabeça, novamente. Era triste, nunca se recuperaram. Aliás, não sabia dele; ela nunca se recuperou. Nessa coisa engraçada dos amores imensuráveis, por vezes a gente não sabe para onde vai. E os caminhos se tornam confusos, e o desejo dá lugar aos momentos irritadiços. Então, acontece que um belo dia, a gente se perde. Eis Maria, não sabe como perdeu seu João. Eu sei, e vou contar.

Foi num daqueles dias imprevisíveis, em que a exigência de um destrói a boa vontade do outro; ou numa daquelas tardes em que as acusações ultrapassam a prudência; ou numa daquelas noites em que a falta de compreensão mina a paciência; ou quem sabe, aqueles momentos em que se silencia, em que o vazio sufoca as esperanças. E talvez tenha sido tudo, porções contínuas de cada tragédia. O amor também se desgasta.

Que a gente não se preocupe com o quando, mas, que no fundo, saibamos o porquê.

***

Quisera. Quiseram. João realmente quis, de todo o coração ele quis. Mas nessa história vai ser ele a deixar escorrer pelas mãos. Porque há os que sabem que estão errando e os que escolhem errar.; João decidiu ser os dois. Em toda relação há de haver a base, João era base, e decidiu não mais ser. Porque um, sempre há de ceder pelo outro, porque um, sempre haverá de dar espaço ao outro, pois assim se sentirá satisfeito quando o outro florir.

Não, João foi deixando as coisas de lado, foi deixando seu amor de lado, porque a liberdade passou a ser mais sedutora. E de tanto se afastar, e de tanto afastar, findou que a estrutura ruiu. O amor também fraqueja, embora estejamos extremamente iludidos a acreditar que permanece eterno. Mentiram, poucas coisas sobrevivem às intempéries mirabolantes da vida, e o que sobrevive não é por sorte, é, porque, talvez, tenham descoberto que o importante não seja sobreviver ao imponderável, seja a própria vida.

Que a gente saiba que o amor não é uma coisa surpreendente, ele só exige que saibamos estar sempre onde e como devemos estar.

***

Que saibamos com o amor, porque o amor é muito maior que a gente.
E que saibamos que nem o que nós temos de mais bonito está imune do fracasso.
Desamor também é um princípio. Sempre hemos de escolher.




 

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