"Estavam ali mais uma vez, João e Maria, com seus corações ardendo. Apesar de se esforçarem, de se empenharem, de tentar entender, o amor é muito maior que a gente. Achamos que podemos controlá-lo, até que ele aparece de vez e prega a peça. E aqueles corações ardiam. Mas não era de dor ainda. Era de amor. E mesmo sem saber ao certo o que estava por vir, ambos os corações estavam dispostos a entregar-se, a embaraçar-se em uma única batida sincronizada pelo ritmo veemente abrigado naqueles músculos recém apresentados a pureza de tal sentimento. O coração de João, incontido, sentia intermitentemente o de Maria pulsar, querendo mais, pedindo mais e ambos ansiavam por aquela entrega, pois não importava o depois, era o agora que eles pensavam, que eles sentiam e cediam. O olhar dos dois se encontrou, transmitindo muito mais que simples palavras. Os corações bombearam amor pelas artérias e então souberam que seus destinos estavam entrelaçados, não apenas no presente, mas talvez para sempre" - lembrava-se Maria.
Os olhos dela, lacrimejando estavam, a divagar a imagem de João, na fotografia já desgastada pelo tempo. O gosto do beijo, o ardor dos braços quentes, aconchegantes e da pele macia que roçava em seu corpo vieram todos à tona simultaneamente, num fluxo forte, arrebatador de ideias que tirava Maria de si.
Seu coração martelou uma vez, duro, espremendo duas lágrimas quentes que se dissiparam ao tocar o fogo do chão que a consumia devoradamente. As recordações eram boas, mas o desfecho tornava-se verdugo a seus pés, à sua estrutura óssea, à sua vida.
Beijou o retrato, acariciou-o com carinho e voltou a colocá-lo na cabeceira da cama. Ela sabia que o que viveu com João foi amor, daqueles fortes, quase de filme com um “Q” quase de novela, porque o final não foi daqueles mais felizes. A morte nunca respeita a lei do amor, um sempre deixará a dor e a vontade de repetir o que jamais seria um para sempre.
Por mais que os dez anos separados tenham se completado, o amor ainda estava ali, forte, duro como um rochedo, petrificado em seu peito e estampado em seu olhar. Porque por mais que perguntassem a ela se ainda existe saudade, ela simplesmente diria: “a resposta está escrita em meus olhos”.
#Pauta para Bloinquês
Nenhum comentário:
Postar um comentário