quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Semana especial: João e Maria #Dia07

Queridos leitores,

hoje encerramos nossa semana especial. Com uma última surpresa: para encerrar de forma brilhante, convidamos para publicar uma vez mais aqui na Franquia, os contistas que por aqui já passaram e são inesquecíveis na nossa história. Infelizmente Carolyne M. não respondeu ao nosso convite, mas Vinícius R. e Nini C. responderam prontamente. É com muito orgulho que publicamos um conto de cada, seguindo o mesmo esquema de toda a semana.

Vinícius R.
- que a genialidade nunca seja esquecida. Que as velhas histórias também continuem perpétuas, porque a recontagem é o que cria esse nosso cenário de agora.

João e Maria


Estavam ali mais uma vez, João e Maria, com seus corações ardendo. Apesar de se esforçarem, de se empenharem, de tentar entender, o amor é muito maior que a gente. Achamos que podemos controlá-lo, até que ele aparece de vez e prega a peça. E aqueles corações ardiam. Mas não era de dor ainda. Era de amor. E mesmo sem saber ao certo o que estava por vir, ambos os corações estavam dispostos a entregar-se, a embaraçar-se em uma única batida sincronizada pelo ritmo veemente abrigado naqueles músculos recém apresentados a pureza de tal sentimento. O coração de João, incontido, sentia intermitentemente o de Maria pulsar, querendo mais, pedindo mais e ambos ansiavam por aquela entrega, pois não importava o depois, era o agora que eles pensavam, que eles sentiam e cediam. O olhar dos dois se encontrou, transmitindo muito mais que simples palavras. Os corações bombearam amor pelas artérias e então souberam que seus destinos estavam entrelaçados, não apenas no presente, mas talvez para sempre. 


Agora, olhando do lado de fora, pensando em como era bonito e como era clichê todo o romance, não posso deixar de abraçar duas idéias: o de que era mais do que uma brincadeira do destino juntar “João e Maria“ em uma única história, sabendo eu que a quantidade de más coisas sofridas em contos de fadas é enorme. Mas também a idéia de que esses contos de fadas terminam sempre bem. Olhando daqui, externo a todo amor que ali se emancipava, enquanto eu procurava me manter rígido atrás da cortina sem ser visto.  Alguns dirão que é medo de ser pego, ser fichado na polícia. Era muito mais que isso! Era medo de acabar com aquele momento inocente tão bonito bem na minha frente! E lá estavam dois personagens dos quais eu ouvi tanto falar em uma nova história, em outra versão – um casal, não irmãos.


João a olhava com um carinho que eu nunca tinha visto. Deslizava o indicador pelo rosto de Maria e eu pude ler nos olhos da moça como ela se sentia bem com aquilo. Quis estar ali, entre eles, como um possível bebê a ser cuidado pelo dócil casal que faziam o amor parecer tão desejável. Em qualquer outra situação, eu desconfiaria de João. Porque o que querem é o beijo, é o seio e tudo o que elas podem oferecer. Até o amor. Mas o que nós, homens desgraçados, podemos oferecer? Um bom momento, dificilmente algo mais. Mas João era bom, isso eu aposto, porque pude vê-lo deslizar o dedo abaixo do olho de Maria, fazendo com que ele antecipasse o curso de alguma possível lágrima. E creio eu, ainda estando meio bêbado, que esse foi o único momento em que alguma coisa insinuasse sofrimento para aqueles dois. 


Maria sorria, sorria. Talvez por seu nome, pela corrente que trazia no rosto – e que também acabava beijada quando João afagava-lhe a nuca com a própria boca. E cada dente de Maria era tão ardente que sentia os meus olhos queimarem. Era muito amor. Estavam ali, como duas crianças encantadas por uma casa de doces a ser comida através do que sentiam. E eu, escondido ainda, frustrando-me na intenção de roubar algo daquele quarto de hotel, pude analisar um pouco a vida. Que tipo de desgraçado eu seria se acabasse por atrapalhá-los? 


E ali se despiram e a partir daí ouvi algo, mas não ousei olhar. Seria puro demais para um próprio ladrão. E fiquei por lá mais e mais e quando vi, já era noite e Maria estava jogada sobre a cama sonolenta e João convidando-a para o restaurante. Amor dá fome. E eu sentia isso após horas, rígido atrás duma cortina. 
Ouvi a porta abrir e fechar e o chuveiro ligar. João já descera pra beber algo no bar, Maria buscava deixar a pele mais macia e sedosa possível para o marido. E eu tranquilamente brotei no meio da pureza e surrupiei algo que não vale a pena ser mencionado. 


Comentei com um parceiro a respeito. 


“Você ficou foi olhando eles se pegarem.” 


“Não, juro que não. Era bonito demais pra se olhar. Eles se amam, tenho certeza.” 


“Bobagem! Acha que vão ficar assim até quando? Dez anos no máximo e esse tal de João vai amar outra.” 


“Eu não ligo, eu não ligo. Fico feliz de não ter atrapalhado. Afinal, se tem alguma bruxa quer comê-los na história, na realidade ela vai acabar comendo. Mas não fui eu a fazer isso usando as balas da minha arma. Vai ser a vida, essa bruxa desgraçada.” 


Eu não achei graça no meu comentário e nem meu amigo. E talvez isso justifique eu contar essa história. Quem sabe assim, alguém termine isso algum dia e João e Maria tenham um final feliz.



Nini C.
- trouxe para nós uma leveza como nunca antes na sua pouca estada. Linda e munida de uma simplicidade belíssima, conta o que é mesmo o amor.

João e Maria 


Estavam ali mais uma vez, João e Maria, com seus corações ardendo. Apesar de se esforçarem, de se empenharem, de tentar entender, o amor é muito maior que a gente. Achamos que podemos controlá-lo, até que ele aparece de vez e prega a peça. E aqueles corações ardiam. Mas não era de dor ainda. Era de amor. E mesmo sem saber ao certo o que estava por vir, ambos os corações estavam dispostos a entregar-se, a embaraçar-se em uma única batida sincronizada pelo ritmo veemente abrigado naqueles músculos recém apresentados a pureza de tal sentimento. O coração de João, incontido, sentia intermitentemente o de Maria pulsar, querendo mais, pedindo mais e ambos ansiavam por aquela entrega, pois não importava o depois, era o agora que eles sentiam e cediam. O olhar dos dois se encontrou, transmitindo muito mais que simples palavras. Os corações bombearam amor pelas artérias e então souberam que seus destinos estavam entrelaçados, não apenas no presente, mas talvez para sempre.

E sentiam o amor, urgentemente, querer transbordar, porque crescia e se cultivava, involuntariamente, pois o sentimento rega-os com as cores estranhas da saudade. E mais uma vez estavam ali, nem perto e nem longe, mas sim, dentro um do outro. E por isso Maria o espera, com seus óculos redondos e o seu vestido de domingo, enquanto fala bem baixinho: “Vem logo, vem logo, vem logo.”. Ela sabe que João escuta por telepatia e logo chega. Ela sabe.


João é poeta e fala de um jeito bonito. Maria procura palavras no dicionário para também falar bonito e chamar a atenção de João; que gosta mesmo é das palavras confusas de Maria, porque ela o faz rir.


Mas João às vezes sente medo, um receio bobo que o faz perder a calma. Uma vontade louca de viajar para longe; uma cidade quente, ruas de carros e muito monóxido de carbono entrando pelas narinas... João está completamente apaixonado e liga para Maria o dia inteiro e a chama de bebê, enquanto ela o chama de papai, e fica dando beijinhos no telefone. Ele sente e faz carinho na bebê. E os dois estão sempre tão juntinhos que até parece que a distância não existe.


O amor dos dois é uma coisa tão linda e tão pura que João diz que foi tudo estipulado desde a eternidade e que simplesmente reconheceu Maria. E diz que quando vir ela, vai sentir o coração arder bem mais que a pele sob o sol da cidade e o coração tamborilando. Ele diz que os seus sentidos se dissolverão num sonho e o coração dele vai gritar de tanta euforia que quando Maria surgir, vai ter a impressão de que ela ouviu e veio, e vai ser como se ela tivesse surgido dele.


Maria não sabe bem o que dizer, porque não é poeta como João, mas ela fala que o amor deles é como um biscoito que nunca acaba; João ri.


E é como se a saudade apenas os preparasse para a hora certa, para o dia certo e para o tempo certo.


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E com essas duas publicações, agradecemos a participação de todos.
E ficamos por aqui, como você já bem sabe:
A cada três dias, um novo conto.

Gratos,
Os franqueados.

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