sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Anfiteatro da dor


Complicado é saber o que é mais difícil: permanecer no anfiteatro dos pais indesejados ou fugir para bem distante sem remorso e sem perspectivas de voltar. Então fiz o que julguei ser mais propício e mais satisfatório.
Kristoffer bateu de leve na porta, já sabia que aquele era o sinal que estava pronto, somente a minha espera. Peguei minhas coisas e abri a porta sem que nenhum som pudesse ser feito. Descemos as escadas, abri a porta com todo cuidado e subimos na caminhonete de uns amigos.
Talvez eu me arrependesse do que estava prestes a fazer, talvez eu lamentasse o resto da minha vida de algo que jamais pudesse ter um final feliz, mas resolvi arriscar, apostar todas as minhas moedas longe de uma família que me tratava como um lixo na sociedade, apesar de ter condições de comprar até o presidente dos Estados Unidos. Só que não era bem assim que os meus pais avaliavam seus filhos. O tudo que tínhamos era comparado ao nada em que significávamos e representávamos para eles.
Sequei as lágrimas disfarçadamente e deitei no colo de Kristoffer para tentar descansar, já que a caminhada seria longa.

Parecia mais uma manhã comum, com o sol batendo em meus olhos, mas estava enganada, amanhecera e eu ainda estava na mesma caminhonete, em que imaginei que pudesse ser um sonho. Com o dorso das mãos, esfreguei os olhos. Kristoffer sorriu pra mim e perguntou se queria tomar café, apenas meneei a cabeça negativamente e sentei-me ao seu lado.
- Sabe, Cristine, acho que apesar dos nossos pais ficarem chateados com nossa atitude, eles não sentirão nossa falta tanto quanto a gente sentirá a deles.
- Kris, por mais que a gente sofra, precisamos pensar positivo, porque se ficássemos lá, eu sei que aquilo iria continuar e jamais teria um fim. Os maus tratos, as palavras torpes, não quero mais isso pra mim, mas quero esquecer tudo. Chega. Acabou!
Estiquei as pernas no colo dele, enquanto lamentava-me por ter um pai tão desligado e despreocupado.
- Tudo bem, assim é melhor mesmo. Ei, você se lembra uma vez, logo no seu primeiro all star, o que foi que escrevi? Lembro que peguei sua perna, exatamente como agora, mas estávamos num parque em que nossa titia Madalena sempre nos levava.
- Queria muito lembrar, mas não consigo.
Ele apanhou uma caneta do seu bolso e escreveu. Ela sem saber, pediu que lesse alto e ele assentiu com a cabeça e disse:
- Jamais te deixaria sozinha, porque você está sustentando meu mundo.
Levei as mãos à face. Eu sabia que aquilo tudo era verdade, por mais que não me lembrasse da frase no tênis, mas sabia da sinceridade e, acima de tudo, do amor entre nós. Sabia que por mais complicado que fosse, o anfiteatro da dor nunca teria fim, mas a presença dele poderia ser evitada longe dos nossos pais.

#Bloínquês

Um comentário:

Lara Vic. disse...

nossa muito lindo, adorei mesmo!
você juntou as edições mas não saiu do tema de nenhuma, eu simplesmente senti os assuntos fluindo juntos...
nossa acho até que vou retirar minhas inscrições ><
beeijos!

recantodalara.blogspot.com