Ele vai para o bar e bebe qualquer coisa com a condição de conter álcool. Faz piadas ruins com os amigos que riem e falam alto. Inventa cantadas de péssimo gosto só para sentir-se macho, porque ali ninguém precisa saber que ele ouve Caetano enquanto lê Vinícius; não ali. O pai dele disse que isso é coisa de mulherzinha.
Vira mais um copo, aponta para a ruivinha desacompanhada sentada próxima ao balcão, e ri para ela. Diz para os amigos que a lábia do boêmio precisa entrar em cena. Os risos são altos, e a cerveja do fim de semana vai estar garantida caso ele consiga sair do bar junto com a ruiva.
Entorna o conhaque que é para esquecer de tudo, caso a cantada seja ruim demais. Os amigos o empurram e ele caminha quase trôpego até sentar-se na mesa onde a ruiva faz uma azeitona girar dentro dum copo.
Ela o encara, ele sorri, mas disfarça quando se sente intimado pelo olhar questionador que ela o lança. Ela pergunta o que ele quer, e o que o faz pensar que ele pode chegar assim e ir sentando. Ele diz que quer se sentir feliz naquela noite, e pergunta se ela o daria esse prazer.
Ela franze a testa, diz que ele está bêbado demais, e se caso ele insistir ela irá envergonhá-lo na frente dos seus amigos que parecem mais uma platéia de palhaços. Ele olha para os amigos que riem enquanto se jogam uns por cima do outros, a ruiva assiste a tudo enquanto revira os olhos.
Ele se volta para ela, e ela balança uma das mãos o enxotando, dizendo que o show de exibicionismo não vai rolar. Ele se levanta, e ela sorri vitoriosa dizendo que ele não é lá tudo isso para se prestar a ganhar “a mulher solitária da festa” – disse assim mesmo, enfatizando as aspas com aqueles dedos finos que tem.
Os amigos agora riem como se sentissem dores estomacais, alguns cospem o conhaque que quase desceu pela garganta. Ele diz que a mulher é frígida, e que não é tudo aquilo que parece. Os risos soam estridentes, e ele encara a ruiva que coloca uma mecha do cabelo atrás da orelha - a culpada pela humilhação e pela falta de cerveja gratuita no fim de semana.
Os bolsos dos camaradas zombeteiros esvaziam-se, e a hora de serem carregados até em casa chega. Há quem durma na sarjeta mesmo, não se importam, e que o chão os acolham. O motivo da piada fica, inventa uma desculpa e diz que vai sair mais tarde, fala isso olhando para a ruiva que agora toma vodka.
Ele se aproxima mais uma vez, ela o encara revirando os olhos, pergunta se ele não tem semancol ou o quê. Ele se senta mesmo assim, diz que adoraria cobrir o riso dela com um beijo. Ela bufa, pergunta se ele gosta de ser humilhado na frente dos amigos. – diz isso suspendendo os olhos para ver se encontra “o clã dos idiotas”. Não os vê, e ergue uma sobrancelha para ele que agora rasga um risinho no canto da boca.
Ela toma mais um gole da bebida, diz que mesmo assim ele pode ir embora porque ela não está interessada em seu jeito largado. Ele diz que quer ficar, porque se interessou muitíssimo pelo jeito difícil dela. Ela diz que ele é insistente demais, e que já vai embora mesmo, e ele pode ficar com a garrafa de vodka. Ele levanta-se também, diz que não quer mais beber, e a pede o número de seu telefone. Ela o olha com incredulidade antes de caminhar bar a fora. Ele a segue e toca o seu braço, pergunta se não pode levá-la em casa. Ela diz que ele é louco ou que tem problemas de audição. Ele a chama de teimosa, e de irritadinha, diz que acha as bochechas dela muito charmosas assim nessa tonalidade quente.
Ela pega um papel e risca um número rápido, diz que é para ele deixá-la em paz. O outro ri abertamente, pega o seu celular e disca o número só para se certificar. Ela coloca uma das mãos na cintura de um jeito engraçado, ele ri enquanto ouve Sozinho de Caetano tocar. Ela pega o celular e atende o chamando de idiota. E ele só consegue fazer cara de idiota mesmo, enquanto observa a ruiva andar em passos seguros pela calçada mal iluminada. Ainda grita para ela que vai ligar, ela ergue uma das mãos como não se não fizesse diferença. E só pra dizer que entende, ele assente, dizendo que isso tudo é pose, que ela se importa sim, e que está doida para ele ligar, caso contrário não o daria o seu número verdadeiro. É... Ele quer acreditar assim.
Duas semanas depois ele estava no mesmo bar, os amigos estavam rindo no mesmo lugar de sempre, mas ele se encontrava sentado numa das mesas cantando Amante Amado no ouvido da ruiva que sorria bonito e o chamava de idiota beijando os seus risos. Ele fazia careta, dizendo que ela deveria mudar os adjetivos, e quem sabe se ela lesse mais de Vinícius?! Ela fica séria, diz que faz isso só para irritar, e que prefere mesmo a Clarice que entende sem entender o que é ser quem se é. E dessa vez ele sorri, finge que entende, diz que ela fica bonita fazendo pose de pensadora intelectual. E ela diz que pose que nada, bate em seu braço, e beija a sua boca só para a culpa não pesar. Ele a beija de volta, fala em seu ouvido que há tempos não vê o mundo desse jeito. Ela pergunta que jeito é esse, e ele diz que é do jeito bonito; do jeito ruivinha de ver.
Um comentário:
ficou lindo, lindo, lindo
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