quarta-feira, 6 de abril de 2011

Primeira parada
















Era daquelas histórias despretensiosas, que começam sem motivo. Dia qualquer do ano passado, Henrique sobe no ônibus sem saber muito bem para onde ir. Acostumado com sua pequena cidade, ele agora tem de se virar na nova, grande, esquisita, complicada cidade que surgia à sua frente. Pegava ônibus pela primeira vez desde que chegou, tinha de ir para a universidade. Aliás, esse era o motivo de sua vinda, passara numa das universidades federais mais importantes do país. Tinha sonhos, tinha de se virar por eles. Estava acostumado como rei, um dos mais populares de sua antiga cidade, sempre ajudado, sempre bajulado; e agora não, nada. Enfim pegou o ônibus que lhe indicaram no terminal. Lotado, mal tinha espaço pra respirar lá dentro, aquele tipo de ônibus que só estudante conhece, e juntando esse desconforto com sua ansiedade, o estado de Henrique era quase desespero.

- Esse ônibus para no Campus? – perguntou à moça do seu lado, de cabeça virada para o outro lado e com fone de ouvidos gritantes. Ela não ouviu. Henrique pegou no seu ombro e insistiu.
-Esse ônibus vai para o Campus? – ela se virou com ar de desconfiada. Nunca vira moça tão bonita, Henrique pensou enquanto era esfaqueado pela raiva nos olhos dela.
- Na porta tem uma placa. – Respondeu ela compreensivamente. Henrique tomou sua primeira piada, e se apaixonou pela primeira vez.

Eu sei que soa ridículo, que soa infundado. Mas o amor tem mesmo dessas coisas fantásticas. Se acreditamos em amor com tranças gigantes, em pessoas que mesmo mortas mandam recados e em outras que passam a vida esperando aquela pessoa que amou voltar; porque não um amor em ônibus lotado? Com esse mesmo pensamento, Henrique tentou puxar novamente a atenção da moça. Ele sabia que era bonito e no mínimo, divertido. Tinha que tentar de novo.
- Talvez se você lesse pra mim, ajudasse bastante. – Henrique fez questão de testar a moça.
E mais uma vez ela se voltou fuzilando:
- Talvez se você tivesse vergonha, não me chamaria de novo.
- Talvez eu tenha perdido quando vi. Você é realmente uma gata.
- Talvez você seja um babaca. -Ele riu.
- Talvez só falte você me dar a oportunidade. –Agora ela riu.
- Qual seu curso? – Perguntou ela já em outro tom.
- Então, talvez você tenha se interessado por mim. – Ele se aproveitou.
- Definitivamente você é um babaca, e sim, esse ônibus vai pro Campus.
- Sempre soube, desde que vi você.
- Soube o que? Que esse ônibus ia pro Campus? – Ela perguntou sem entender.
- Não, que eu era um babaca, por você. – E com essa, ela abriu um sorriso enorme, e ele, um torto. E ela virou o rosto como quem morreu de vergonha.

- Como é seu nome? – Ele tomou a iniciativa após aquele sempre trágico silenciozinho.
- Marcela. Sempre chata no ônibus, e veterana em Economia. 3º Período. Prazer.
-E você quem é?
-Prazer, eu sou um cara cheio de defeitos. Do tipo, não leio placa de ônibus, incomodo moças bonitas e sou mesmo um babaca por elas. Henrique, calouro em Medicina. – E eles sorriram.

E talvez o mais engraçado nesses primeiros encontros, não seja o modo como eles começam, e sim como terminam. Com essas últimas palavras de Henrique, o ônibus acabara de estacionar no terminal da Universidade. Eles desceram e seguiram conversando, rindo um pouco; quem sabe em direção a um ‘felizes para sempre’? Também não sei responder, mas deixa que o amor responde.



Pauta para Bloínquês.




2 comentários:

Letícia R. disse...

M.A.R.A.V.I.L.H.O.S.O.*--*
Bem leve, divertido e lindo, ao mesmo tempo *-*

O jeito de 'conquistar' do Henrique é muito semelhante ao do meu melhor amigo, ueuieuieeuie. E eu acho que poucas vezes isso falha com as mulheres, se bem feito, rs.

Me pareceu até real, imaginando a cena. Me diverti lendo, amei =D

Jéssica Trabuco disse...

Ahh que legal esse post!
Adorei!
E espero que eles tenham ido para o "felizes para sempre" sim :)
Bela maneira de começar algo.