terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Lembranças


Acordei, e quando fui me vestir, lembrei que tinha um brinco que há muito não usava. Abri meu guarda roupa, e apanhei uma tartaruguinha – Aquelas caixinhas de guardar um par de brincos, só que em forma de tartaruga. Abri. E encontrei um brinco dourado pequeno, bem simples.
Me lembrei daquele dia em que estávamos juntos, e eu usava aquele mesmo brinco. Ele tocou a ponta da minha orelha, e me disse:
- Que brinquinho ajeitado. – Analisou ele.
- Nem vem, custou caro. – Brinquei.
Onde estávamos não havia muita iluminação. Então ele olhou mais de perto para visualizar melhor o brinco.
- Ah! É de florzinha! – Ele exclamou assim que viu melhor.
Então eu ri. Alguns meninos gostam de usar brincos. Felipe gostava. E de fato ele tinha gostado do meu pequeno brinco. Mas um menino com um brinquinho com formato de florzinha num rolaria, não é?!
Sorri novamente quando me lembrei daquela cena ao olhar os brincos depois de uns oito meses sem usá-los. São lembranças que até um par de brincos minúsculos podem trazer ao presente.
Coloquei os brincos na orelha. Fechei a tartaruguinha, guardei-a. E então fechei o guarda roupa. Aquele dia estávamos juntos e os braços dele me envolviam. Eu estava feliz. Aliás, eu sempre ficava feliz toda vez que o via. Quando eu estava com ele então, talvez felicidade fosse até pouco para descrever o que eu sentia. Encostei a cabeça naquele peito largo que eu amava. Estava tão feliz... Sem saber que um dia eu me lembraria daquele momento e teria vontade de chorar.
Ninguém poderia fazer idéia do quanto aqueles brincos colaboraram para que a saudade de dias que já passaram, viesse ao meu encontro. Como se eu estivesse gostando de me ferir com um passado que me fazia falta, liguei o computador e fui até uma pasta onde eu escondia uma fotografia dele. Passei longos minutos, talvez uma hora olhando para aquela foto.
Olhava para aqueles olhos que me fascinaram logo que se encontraram com os meus; aquela boca desenhada que meus lábios já tinham tocado; aquele peito largo, onde eu amava encostar minha cabeça; aquele cabelo desgrenhadamente arrumado num topete perfeito. Seus braços não apareciam na foto. Mas também me lembrei deles. Porque eles sempre ficavam em torno de mim quando estávamos juntos. E eu amava o jeito dele me abraçar. Um abraço gostoso e caloroso, tão protetor, que só nele eu sentia que nada poderia me acontecer. Aqueles braços que quando estava frio, me aqueceram, e quando eu estava mal, sem saber me acolheram.
Longos minutos ou quase uma hora frente ao computador, somente a olhar para a fotografia dele que eu mais gostava. Observando cada detalhe, que me fazia lembrar cada momento que passei com ele. Não eram momentos longos, mas ainda eram insubstituíveis. E talvez sempre fossem. Chorei todo aquele tempo em que fiquei olhando a foto.
E a nostalgia me surrava. Fechei a foto, desliguei o computador, e entrei de baixo do chuveiro. Deixei que a água fria caísse sobre minha cabeça. – Como se houvesse modo de esfriar meus sentimentos. –
Encostei minha cabeça no box de vidro e a água fria escorria do meu cabelo, até meus pés. Cerrei o punho esquerdo, escostando-o no Box também, logo ao lado do meu rosto.
Ficar com outra pessoa, só para tentar esquecê-lo, foi o tipo mais negro de fraqueza que eu já tive. Porque não se obriga o coração a gostar de alguém que não o anima a continuar batendo. Não encontraremos jamais em uma pessoa algo que só achamos em outra. As pessoas são únicas. Assim como nossos sentimentos por elas.
A água fria continuava caindo do chuveiro, banhando-me e se misturando com as lágrimas que começaram a escorrer novamente pela minha face. Percebi o quanto fui idiota em procurar alguém como ele em outra pessoa. Erros absurdos que a gente comete, só para tentar acertar... E no final, tudo acaba sendo mais complicado e dolorido. Mas eu estava confiante que o teria de volta. Ainda se não o tivesse, já tinha aprendido a lição: Jamais tentaria, nem menos pensaria, em lutar contra o que eu mais queria.
Felipe era tudo pra mim. E eu o amava incondicionalmente. Talvez até sem querer, sem perceber. O fato é que eu agora estava sofrendo por não ter ele comigo. Mas não cometeria novamente o erro de tentar achar alguém como ele, ou de ficar com alguém só para tentar esquecê-lo. Era ele que eu, meu coração, e todos os órgãos do meu corpo queriam. Indiscutivelmente, não temos muitas chances de ganhar numa luta que não era para existir.
Eu estava convicta que ele sabia que eu o amava ainda e muito. Mas saberia ele o quanto eu estava com raiva de tudo que fiz erroneamente para não me recordar dele?

Não se esquece o inesquecível... E aquelas lembranças me vinham como um soco no rosto por ter sido tão irracional.
- Eu te amo, Felipe! Foi fraqueza e burrice tentar te esquecer. – Sussurrei no banheiro, sozinha. Como se houvesse alguma maneira daquelas palavras sussurradas chegarem aos ouvidos dele.

Um comentário:

Cristiano Guerra disse...

E nós somos feitos de lembranças. Cada pedacinho. Porque é só isso que a gente juntando e juntando e ganhando com o tempo. Todo o resto será esquecido, todo o resto não vai virar poesia. São as lembranças que julgam a gente.