segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Entre mar e estrelas




















Sobre a solidão daquela praia ostentava-se um céu pesado. O escuridão haveria de tomar conta de todo aquele lugar se a lua precariamente não iluminasse o local. Tudo jazia em completa melancolia. O vento corria gelado pelas areias brancas, e as ondas esgueiravam-se preguiçosamente. Ao longe, muito longe, dava pra ouvir vez ou outra, algum carro que passasse em alta velocidade. Pedro, ali, sentado na areia abraçando os joelhos, não se importava com muita coisa; tinha uma arma ao seu lado, se mataria naquela noite. As estrelas seriam ótima plateia, seriam sim. Quando estivesse preparado, caminharia até o mar atingir a altura dos próprios ombros e atiraria na cabeça. Se não morresse pelo tiro, morreria afogado; o mesmo que essa segunda opção falhasse, ainda poderia morrer de hemorragia. Tanto faz o jeito em que morreria, morreria de todo jeito. Morreria fria e calculadamente. Poderiam até pensar que foi um homicídio, menos mal, não o culpariam ou se perguntariam eternamente o porquê de tamanha tristeza. Tinha de ser assim, haveria de ser assim, Pedro não suportaria que ela fosse embora. Não tão assim tão de repente, se ela fosse ele iria também, mas não, obviamente para o mesmo lugar. Amara Juliana com todas as suas forças, do fundo de sua alma, com todo o seu coração. Desde os 14 anos, quando a viu naquele corredor do colégio, fizera questão de providenciar que ela fosse sua primeira namorada. E foi, então passaram a adolecência juntos, transaram a primeira vez juntos, compartilharam segredos, fizeram promessas. Então hoje pela manhã, depois de lindos 7 anos de namoro, ela disse em firme som que não o amava mais. No começo ele riu, em seguida se desesperou. Se trancou no quarto, e colocou seus cd's preferidos. Péssima ideia, escutava-os sempre com ela. Então quando se eu conta, haviam porta-retratos e lembranças por todo o quarto, inclusive o plano de fundo do seu computador. Revoltou-se não podia sentir a presença dela, então saiu a quebrar tudo. Após o grande exorcismo, sentou na cama arrasado, se enrolou com o cobertor e chorou amarguras até seus olhos arroxearem e sua garganta soluçar dor. Foi quando teve a feliz idéia de sair dali, ir para algum lugar, sei lá, onde ninguém o encontrasse. Pegou a chave do carro e o revolver do pai. Amava a praia, iria para lá, lembrou-se de que o mar sempre aliviava suas angústias. Talvez tenha sido por isso que escolheu fazer Engenharia Naval, mas esse tipo de reflexão não importava agora. Pedro estava completamente arrasado internamente, o amor no seu peito agora era ácido. Por que? Por que? Por que? Perguntava fatidicamente enquanto procurava uma resposta. E agora, sentado na areia da fria praia, continua a se perguntar ainda sem entender. Será que era por outro? Será que era por causa dele mesmo? Estava sinceramente cansado de pensar. Não sabia como viver sem Juliana, sua Juliana; já haviam até pensado no nome dos filhos e como se casariam, mas se ela ao terminar com ele havia matado esses sonhos, porque agora ele se importaria. Estava aí sua resposta, não se importaria mais com nada. Num movimento improviso levantou-se pensando no quão pouco havia de sua vida que não possuía a sombra dela: três amigos do peito, na carreira que planejava, que ainda queria ir num show de Red Hot e de seus familiares. Tinha certeza do que estava fazendo, diante do mar e das estrelas, apontou com a mão tremula e atirou 4 vezes. O som ecoou toda a praia, 4 tiros na areia. Subitamente percebeu que viver, mesmo que sem ela, valia muito mais.

2 comentários:

renatocinema disse...

Texto sincero e tenso como o sofrimento.

Bela escolha de imagem para representar isso tudo.

Jéssica Trabuco disse...

Ainda bem que ele percebeu isso.
Sabe, terminos são sempre ruins e sempre ficamos sem rumo, mas viver.... é muito maior do que isso!