quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Herói desconhecido



Mauro empurrava Vinícius, levando-o a força para aquele lugar onde ninguém interromperia suas futuras ações. Vinícius nada entendia, e Mauro falava:
- Pra mim, a justiça deve ser feita!
- Por que está me fazendo isso? – Questionou enquanto era arrastado para o meio do mato.
- Porque esta é a justiça! – Respondeu Mauro.
Um lugar distante da cidade. Aquele lugar plano onde só havia mato e árvores altas, estava fosco. Era noite de lua cheia, mas esta não parecia ter brilho o suficiente para iluminar aquele local. Era o que Vinícius achava. E estava certo em pensar assim.
O único lugar que estava iluminado, apesar de também ser escuro, eram os olhos de Mauro. Estes sim brilhavam e cintilavam ao olhararem para Vinícius. Porque quando você respira e sente o cheiro da vingança cada vez mais perto, seus olhos respondem motivados, alegres.
- Para com isso, estou te implorando! – Gritava Vinícius enquanto Mauro começava a amarrar suas mãos para trás, em uma corda bem grossa. – Me diz por que está fazendo isso comigo ao menos! – Soltou um grito de dor ao sentir o primeiro nó que Mauro dava na corda em seus pulsos.
Não deu um segundo nó de imediato. Primeiro puxou por alguns longos segundos as extremidades da corda, dificultando a circulação do sangue de Vinícius. Este gritava. Mauro era forte. Um homem brutalmente justo. Mas a questão é que Vinícius não sabia o preço de quê estava pagando naquele momento. Não fazia idéia de quem fosse Mauro.

Um segundo nó bem firme na corda, e Vinícius estava com as mãos presas atrás das costas. Mauro o derrubou no chão, e deu chutes de força média em sua cabeça. Não queria matá-lo logo. Ele tinha que sofrer muito primeiro. Com esforço, Vinícius conseguiu se levantar. Mas então foi atingido com um forte soco na ponta do queixo, e caiu novamente no chão coberto por mato descuidado. Fechou os olhos, gemendo de dor. Não podia ver, mas estava sentindo os chutes em sua barriga, em suas costas quando se virava, e outros em sua cabeça. Foi ficando exaurido.
Percebendo isso, Mauro começou a falar:
- Imagine que fizeram exatamente isso com minha esposa. Se não fosse por um cara que até agora não encontrei, ela teria morrido. Como você está prestes a morrer. – Dizia ardilmente. – Os vizinhos me contaram que viram você na minha casa. Como ousa tentar matar minha esposa? Na minha própria casa, imbecil... – Tentava escolher as palavras para dizer, porém a raiva o enfurecia. Puxou uma faca do bolso de trás da calça.
Vinícius curvou o corpo para frente. Colocaria as mãos sobre a faca que estava em sua barriga se elas num estivessem amarradas. O nó era forte demais, o machucava. Caiu de joelhos no chão. A carne de seus pulsos sangrava. E desesperado, mas sem força para dizer algo, podia sentir a ponta da faca a furar-lhe o interior de sua barriga.
- Tentou matar minha mulher, desgraçado! É isso que os policiais deviam fazer com esse bando de loucos filhos da puta como você, que invadem propriedades, para matar inocentes sem motivo! Matar! Deviam matar! Todos! – Gritava. – Mas minha esposa está viva. Alguém que desconheço a salvou.
Vinícius abriu a boca, buscando força para conseguir falar. Com muito esforço, e num fio de voz, disse:
- Se você é efetivamente um justiceiro, então acaba de sujar sua faca com o sangue do próprio salvador de sua esposa.
Abismado, Mauro puxou a faca da barriga de Vinícius. Saiu cambaleando, de costas para a direção que seguia. Olhava para Vinícius, quase tropeçou. Então se virou para frente e correu.

Vinícius era seu vizinho de fundo. Ele havia se mudado há três dias e pulou o muro, que não era tão alto, após ouvir os gritos desesperados da esposa de Mauro, que devido ao trabalho, não estava em casa. Tinha livrado-a da morte e não tentado matá-la.

Ficou sozinho e ensanguentado naquele lugar. Na calada da noite, o coração de Vinícius deu uma última pulsada e parou. Morreu de olhos abertos, e estes, não revelavam dor, apenas lamento. Havia salvado uma vida, e morrido por ela. Mas não era esse o pesar. O lamento, é que os que se dizem mais justos, acabam cometendo injustiças. Mas Vinícius, antes de morrer, já havia salvado uma vida inocente, e provado pessoalmente o gosto do heroísmo. Morreu, mas de tarefa cumprida. Era assim mesmo naquela cidade perdida. Uns salvam, uns morrem; outros matam e correm.
Toda noite morriam pessoas. E naquela noite, um enganado homem covarde que se dizia justiceiro, matou e fugiu por entre as árvores. E com os olhos abertos em direção da lua cheia, morreu por engano,um herói desconhecido.

4 comentários:

CARLA STOPA disse...

Adorei o espaço...Grande abraço.

Jéssica Trabuco disse...

Nossa, que história hein?
Gostei muito.

Viiviih M. disse...

Nossa! o melhor conto que já li por aqui,parabéns letícia.
EStá muito bem escrito e com uma ótima história!

BlackRabbit disse...

a parte final com certeza eh a melhor...
*-*
ótimo conto...
=***
se cuida aew...
\o