segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Relato de uma criança que cresceu

Meu nome é Eduardo. Tenho dezoito anos. Nunca fui do tipo de garoto que desde pequeno desejava alcançar a maioridade. Principalmente quando eu era criança. Diferente dos meus amigos, eu não queria crescer. Sinceramente, jamais achei legal ser adulto. Sempre os achei complicados demais. Agora que sou um, vejo que eu não estava errado.

Contudo, sempre há um motivo que nos faz querer ou pensar algo. A razão que me fez querer permanecer na infância para o resto da minha vida, foi um amor. Mas não o amor complicado e muitas vezes dolorido como o que os mais velhos costumam sentir. Meu amor também foi dolorosamente complicado depois de tantos dias de felicidade. Só que é diferente. Eu amo muito uma pessoa ainda, e esta, não é uma garota. É meu pai.

Nasci numa pequena cidade do interior de São Paulo. Quando cheguei a uma certa idade de querer saber das coisas, descobri que minha mãe morreu durante o parto quando nasci. Passei dias triste por isso. Aliás, triste é pouco. Não conheço alguma palavra que descreva como fiquei.
- Ela está em um lugar muito melhor que este, filho. Não se preocupe. Talvez ela esteja aqui conosco, só não podemos vê-la. Mas te garanto que aonde quer que ela esteja, ela está cuidando de você, meu filho. Desde quando você estava sendo gerado, pois foi ela quem te trouxe à vida.

Meu pai fazia com que eu amasse minha mãe sem nunca a ter conhecido. E eu sentia saudade dela, mesmo sem nunca a ter visto pessoalmente. Afinal, onde ela estivesse, seria sempre minha mãe.

Sem mãe, qualquer pessoa pode se perguntar por que um garoto desse queria continuar criança com a ausência de cuidados materno.
Porém é simples... Eu não tinha uma mãe. Mas eu tinha um homem que era um pai e uma mãe ao mesmo tempo. Ele me ensinou coisas de homem, mas também me ensinou coisas que uma alma feminina ensinaria.
Aprendi a gostar de futebol, carros, e também, é lógico, de mulheres. Só que também entendi porque as mulheres são tão mais sensíveis que os homens: precisamos tratá-las com carinho. – Penso que é o que uma mãe diria ao filho ao vê-lo pensando sobre o comportamento das mulheres.

Aprendi a andar, falar, pensar, cuidar, me defender, brigar pelo meu direito, colocar roupa, pentear meu cabelo, escovar os dentes, estudar, ir pra escola sozinho, e mil vezes etc. E tudo isso foi meu pai quem me ensinou sozinho.
Ele era um adulto de pensamentos complicados. Também sentia falta da minha mãe. Talvez até mais do que eu. Mas apesar disso, ele se encarregava de deixar minha cabeça com pensamentos bons. Se esforçava demais para me distrair de qualquer sofrimento. Sem contar que ele cuidava de todas nossas despesas. Foi assim que fui percebendo o quão difícil e chato é ser um adulto. Ainda mais quando se tem filhos, porque além de cuidarem dos próprios problemas, precisam dar um jeito de fazer desaparecer ou amenizar o problema do filho.

Eu não pensava no trabalho que eu dava ao meu pai quando dependia dele. Todavia, consigo valorizar tudo que ele fez por mim muito bem.
Jamais vou me esquecer de quando fui picado por uma abelha aos quatro anos de idade. Meu pai tirou o ferrão e ainda sim eu chorava. Estávamos no jardim de casa. Então ele me pegou firme na cintura e se jogou de costas no gramado.
- Abre seus braços, não são só as abelhas que podem voar! – Ele disse.
Pelo ato repentino dele, troquei as lágrimas por um sorriso e abri meus braços, obedecendo-o. Ele me olhava nos olhos, feliz.
Eu dava trabalho a ele, mas ele também não poderia negar que seria um pouco menos feliz sem eu. Éramos apenas eu e ele, mas diante de qualquer situação, boba ou não, estávamos juntos, sempre nos distraindo um com o outro.

Mas ele também se foi, há dois meses. Enfrento agora os pensamentos sombrios de um adulto que não é mais ingênuo e não se deixa distrair com qualquer coisa. Queria voltar no tempo para ser criança mais uma vez, já que assim num pude permanecer. Mas vontades, nem sempre se fazem.
Vou levando a vida... As lembrança que tenho do meu pai herói, me tornam um adulto bem menos vazio.
Ás vezes fico perdido sem meu pai para me mostrar o caminho. Porém os que ele me mostrou, foram suficientes para eu ter uma idéia de qual é certo e qual é errado.

É tenso demais ser um adulto. Ainda mais quando você já não tem seus pais. Mas não estou triste. Por quê?
Bem, quando eu era criança até dois meses atrás, eu tinha um anjo no céu e outro na terra. Agora tenho dois anjos que me guiam e me protegem de lá de cima. Talvez eles estejam aqui comigo neste momento, só não posso vê-los.
Só que não me preocupo, pois sei que não estou sozinho. Também já não me desespero mais por ser adulto, porque serei eternamente a criança dos meus pais. E é isso que importa.

Se bem que ser adulto tem uma vantagem: Aprendemos a ver e entender coisas que eram ininteligíveis e invisíveis quando éramos crianças.
Ao meu entendimento, a vida é um mar de incertezas onde nadamos para descobrir fatos. Por enquanto, até onde nadei, descobri duas coisas: A melhor fase da vida realmente é a infância. E as melhores e insubstituíveis pessoas que teremos, conheceremos ou não, serão nossos pais. Hoje, sempre, e eternamente.

Um tempo atrás eu queria morrer também. Mas acho que vale a pena continuar vivo para saber como essa história termina.

5 comentários:

renatocinema disse...

Não sei se existe vantagem em ser adulto....sinceramente, acho que não. Minha infância foi mais feliz, alegre, divertida e emocionante. Mas, ser adulto tem seu lado agradável. Porém, ser criança é ainda melhor.

Jéssica Trabuco disse...

Ser adulto só nos traz mais problemas...rs Acho que ser adulto nos torna racionais demais, sendo assim deixamos de viver muitas coisas.
Mas como você disse no fim do texto, vale a pena continuar vivo pra saber como isso acaba ;)

BlackRabbit disse...

texto muito bom!!!

Insana disse...

Eu lembro do meu tempo de criança, sinto ssaudade...

bjs
Insana

Rodolpho Padovani disse...

A infância era td de bom mesmo, mas acho que cada idade tem seu lado bom, cada uma nos ensina uma lição e acrescenta coisas para a nossa vida.
Bem reflexivo o texto, gostei.