domingo, 10 de outubro de 2010

Sorriso de um garçom


Entrei no carro sem nada dizer, e assim permaneci até chegar ao restaurante. Era noite de sexta-feira. Pode parecer estranho, mas preferia ficar em casa em vez de sair. Mas quando você ainda é adolescente e não pode viver de acordo com suas preferências porque quem toma conta de você são seus pais, você tem que acompanhá-los quando eles fazem questão de sua companhia.
Por isso eu fiquei em silêncio. Eu teria que acompanhá-los de qualquer jeito, mesmo que eu falasse algo.
O restaurante ficava bem distante da minha casa. Enquanto no carro se ouvia um cd sertanojo, digo, sertanejo do meu pai, eu olhava pelo vidro para as paisagens que se passavam do lado de fora. Mas que vida sem graça. Sempre estava acontecendo algo de bom na vida das pessoas, enquanto na minha, acontecia apenas de eu me sentir entediada.
É natural que a gente se sinta assim, quando estamos fazendo algo chato que é contra nossa vontade. E bom... Eu estava indo no restaurante com os meus pais. Seria como todas as outras vezes: Eles dizem que vão embora cedo, mas nunca vão. Escolhem uma mesa para se sentarem, e começam a falar sobre os serviços deles, sobre futuro, remédios e até dos vizinhos chatos que temos.
Passados alguns minutos, enfim chegamos. Descemos do carro e fomos andando em direção à entrada. Enquanto andávamos, as pessoas que estavam sentadas do lado de fora, nos olhavam. As pessoas sempre olham para os que chegam, só para ver se é alguém conhecido que está chegando.
Passei a mão em minha franja, que caía sobre meus olhos e continuei andando, vendo toda aquela gente. Não era sábado, como de costume. Era sexta. Mas lá estávamos nós novamente para jantar.
Entramos, pegamos nossos pratos e escolhemos nossa mesa. Fomos nos sentar. Eu não comia muito. Naquele dia também não foi diferente. Terminei de comer logo, e sentada diante dos meus pais, que estavam um do lado do outro, retirei um papel de limpar a boca, e comecei a dobrá-lo. Meu pai falava do serviço dele. Dobrei mais uma vez o papel. Seria mais um jantar daqueles.
Passado algum tempo, os garçons começaram a servir carne em nossa mesa. Rodízio. Primeiro veio um senhor. Com uma má vontade de trabalhar, que ao vê-lo fiquei mais desanimada ainda da vida. Acho que era o primeiro dia dele naquele emprego. Por isso ele num tinha muita prática e era um tanto tímido.
Meu pai e minha mãe mantinham-se em assuntos que não me atraíam, nem possibilitavam alguma fala minha. Não estava no meu dia. É que tem dias que você se sente mal consigo mesmo, quer fugir de qualquer lugar que esteja. Eu estava desesperada. Eu sentia fome. Mas o que gritava não era meu estômago, era meu âmago. Meu ser precisava de algo para se sentir bem, e eu não sabia o que era. Só sentia que precisava de algo e que queria sumir daquele lugar.
Atrás da mesa em que estávamos, tinha uma janela. Meus pais estavam de costas para ela. Eu estava de frente. Ouvi uma voz diferente falando naquele lugar. Olhei no vidro da janela, onde pude avistar o reflexo de um menino servindo uma das mesas que havia atrás de onde eu estava sentada. Ele estava servindo carne também. Trazia dois espetos de duas carnes diferentes na mão. Ah, ele estava sorrindo.
Num instante, ele chegou à mesa em que eu estava. Perguntou se estávamos servidos e logo me olhou sorrindo. É claro que eu estava servida. Não era carne que eu queria, era algo singelo e diferente de tudo que eu já havia visto naquele lugar que estava acostumada a ir.
Parece que eu acabava de descobrir do que eu precisava. Tanta ânsia em ir embora daquele lugar cessou quando eu senti a simpatia de ser daquele menino. Chegava simpaticamente nas mesas, conversando extrovertidamente, servindo habilidosamente e sorrindo espontaneamente. Foi incrível o que eu senti.
Muitas vezes me apaixonei por olhares. Mas aquela foi a primeira vez que eu queria ir embora e um sorriso me fez querer ficar horas mais.
Meu conforto não estava na roupa que eu vestia, nem no dinheiro, muito menos na comida que eu comia. Estava estampado no rosto do menino garçom que sorria.
Foi bobeira pensar que seria um jantar como todos os outros. Mas pensamos bobeiras, porque nunca sabemos o que pode acontecer de especial. Em meio a um jantar inútil, com conversas inúteis para ter que ouvir sem nada dizer, vi que alguém trabalhava sério. Digo que trabalhava direito e perfeitamente. Uma correria só pelo número de pessoas para servir, mas esse alguém sorria. E eu que só comia, estava cansada mesmo sem ter feito nada.
Sabe, é incrível como um sorriso pode melhorar a cara, o espírito e a vontade de uma pessoa amargurada. Eu estava me sentindo péssima. Mas quando o vi de longe, e logo vi mais de perto e ele sorriu pra mim, eu devolvi o sorriso.
Senti uma felicidade que surgiu momentaneamente, mas que me fez dormir sorrindo quando cheguei em casa. Quem disse que felicidade num se encontra em coisas bem simples?
Encontrei a minha no sorriso de um garçom que não parava de andar para lá e para cá. Ele não era nem seria meu namorado. A explicação para isso, é que realmente a simpatia tudo conquista.
Na hora de ir embora, meu pai deu gorjeta para ele. Foram apenas cinco reais. Mas o bem estar que ele me causou, não há dinheiro que pague.
Saímos do restaurante. Estávamos saindo com o carro, e de longe o avistei andando para lá e para cá, servindo simpatia nas mesas.

6 comentários:

Jéssica Trabuco disse...

"Sorria. Isso basta."

Mensagem que o orkut sempre dá, mas que é a pura verdade!
O sorriso é a maior arma que temos...

Adorei o texto, como é que nunca tinha vindo aqui antes?

www.musicpoesiaeblablabla.blogspot.com
www.daquiloquenaofalam.blogspot.com
www.aliceinworld.tumblr.com

Julyana ツ disse...

É incrível a forma como você escreve *---*



;*

BlackRabbit disse...

É incrível a forma como você escreve *---* [2]...

eu gosto de pessoas simpaticas...
apesar de eu não ser uma pessoa simpatica...
=p
muito pelo contrario...
sahuisahsiuahsauishaiushaiush...

=***
se cuida aew moça...
\o

Nini C . disse...

É incrivel a forma como você escreve *-* [3]
rs... adorei o conto.
Beijos.

Catharine.. disse...

Sorria, somente sorria..

- Adoreei o blog, e os contos são incrivelmente bem escrito.
* Meus parabêns..

* Estou seguindo seu blog ( Peguei o link na comunidade BLOGSPOT do orkut)
- Se possivél, me siga também?!
http://historias-de-casal-adolescente.blogspot.com/


* Obrigada, e meus parabêns..

Letícia R. disse...

Obg, pessoal *-*

E Catharine, obrigada. Não sei se percebeu, mas enfim, eu divulguei o blog na comunidade, mas ele não é meu. E cada conto é escrito por um de nós três a cada três dias.
Obg pela visita aqui. Visito seu blog assim que possível :D