_ Quando finalmente o
segurei em meus braços, e olhei para ele, tão pequeno, indefeso e lindo, foi o
dia mais maravilhoso da minha vida. Foi quando entendi porquê é possível o sol
se abrir mesmo com chuva caindo: sorri e chorei ao mesmo tempo. Aqueles
pezinhos gordinhos e branquinhos que mais pareciam um pão de leite davam muita
vontade de morder, e seu pai não ficou a desejar quando chegamos a nossa casa.
– Sorriu olhando para baixo, como se estivesse voltando no tempo, lembrando
daquele momento. - Dei uma festa cheia de doces, salgadinhos. Havia até
bexigas. Até então minha vida nunca havia sido tão feliz... E nunca seria, se
eu não tivesse uma criança que jamais poderia sair de mim.
A amiga ouvinte
tentava conter a emoção com as lágrimas que queriam saltar dos olhos. Mas mais
difícil que contê-la era deixar aquele aperto de lado, a que qualquer um daria
o nome de arrependimento mau caráter.
_ Como se sentiu
quando soube que não podia engravidar? – Por fim perguntou.
_ Foi triste. Mas
desde que eu conseguisse adotar uma criança, entenderia que era preciso que eu
fosse estéril, pra que esta pudesse ter uma família. E assim foi. – Não parava
de sorrir – E eu o amo tanto, Arlete, tanto!
Meu Ivanzinho. – Disse quase que para si mesma, abraçando uma almofada e
olhando o retrato do garoto de agora 15 anos, que estava na estante da sala
logo à frente delas que estavam sentadas no sofá.
Arlete engoliu o
choro.
_ Ele teve muita
sorte de encontrar uma mãe amorosa e carinhosa como você. E um paizão atencioso
e calmo como seu marido. – Comentou de todo coração.
_ Nós é que tivemos
sorte, minha amiga. Felicidade para eu e meu marido não existiria com a
ausência desse pequeno. – O sorriso que tanto esboçou o tempo inteiro deu lugar
a uma singela e pesadinha lágrima agora.
_ Ah, meu Deus, me
esqueci que tenho um compromisso daqui a pouco e estou atrasada. – falou num
repente conferindo o relógio no pulso.
Despediram-se. Arlete
já na rua e de costas para a casa humilde, mas cheia das coisas mais ricas da
vida, pôde chorar fervorosamente. Não sabia se voltaria a se falar com Marta.
Seria difícil depois de tanto procurar e descobrir secretamente que Ivan é seu
filho biológico que havia abandonado ao nascer porque o marido carrasco e beberrão
mandou. Estava arrependida racionalmente. Mas seu coração ainda sim preferia o
homem. Ou o contrário, quem sabe – Digo arrependida emocionalmente.
Tinham pena dela os
estranhos que a viam caminhando ao pranto pelas ruas. Mas é porque não sabiam
que apesar de um choro arrependido, ela preferiu um homem ao filho.
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