quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Acelga

 
Certa manhã, Rubens e Marta encontraram-se para o almoço de domingo. Apesar de serem ex-namorados, gostavam de manter contato, estar juntos. Ele satisfazia-se com aquela amizade que preenchia todos os momentos vagos com boas conversas, e algumas doses de risadas. Já ela alimentava um desejo fervoroso de casar-se com ele. Amava-o! Ele sabia disso, tanto que sempre desconversava quando os assuntos caminhavam para lados um pouco mais íntimos; afinal, não desejava reassumir um compromisso, mas também não queria perdê-la.
   Quase conformada diante de tantas rejeições, ela aprendera a calar-se, e, acima de tudo, a sufocar seus desejos e sonhos mais íntimos. Era melhor tê-lo assim do que não tê-lo!
   Com o tempo, cara a cara com essa nova realidade, ele começou a acreditar que ela já o esquecia, e, inocentemente, comentava sobre seus romances com outras mulheres, sem saber, no entanto, que exercia uma tortura chinesa. As palavras transformavam-se em gotas d’água que caiam, incessantemente, sobre o coração de Marta, formando, ali, uma grande ferida.   
   Chegando ao restaurante, assentaram-se junto a uma bela varanda na qual podiam assistir ao ir e vir de pessoas e carros, fizeram seus pedidos, e, enquanto esperavam, conversaram animadamente a respeito do programa que haviam feito na noite anterior: Fernanda Montenegro, em monólogo, estreara uma peça sobre o amor entre Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Maravilhados com a riqueza dramática de tal espetáculo, até cogitavam colecionarem, juntos, toda a obra dos pensadores franceses.
   Após esperarem aproximadamente quinze minutos, foram servidos, e começaram a desfrutar de seus pratos. Em dado momento, uma linda mulata passou, majestosamente, pela rua. Embevecido por aquela imagem, Rubens comentou:
_ As morenas são fenomenais! Um dia ainda caso com uma – e, com olhos sonhadores, riu.
   Marta calou-se. Correu, rapidamente, os olhos por suas mãos, braços e pernas. Espantada, deixou escapar um leve murmúrio de horror, e, em choque, constatou: era branca; como a neve... Pronto! Meia dúzia de gotas acabara de atingir seu peito. Repetiu-as mentalmente: um-dia-ainda-caso-com-uma.
   Percebeu, então, o quanto ele mudara nos últimos meses; já não era mais o homem que conhecera. Assumindo para si mesma o luto pela morte de seu amado, olhou para aquele estranho à sua frente. Ele, vendo-a pálida, sorriu. Quando Marta vislumbrou aquele gracejo, teve ânsias de vomitar não só a comida, como também a alma! Havia, sobre o dente daquele desconhecido, um cintilante pedaço de acelga. Fugindo daquela cena horripilante, voltou seus olhos para os lados. Viu, instantaneamente, diversos casais sorrindo mutuamente - mas os dentes de todos estavam limpos! A ficha, até que enfim, caíra: o relacionamento com Rubens seria sempre um tortuoso sorriso sujo.
   Orgulhosa de sua descoberta, e farta de tanta dor, tomou um gole de suco, retribuiu polidamente ao sorriso daquele homem, e disse: sim! Levantou-se, ajeitando as roupas e caminhou até a saída! Logo, entre gargalhadas, apagou, na agenda de seu celular, o número do finado amor, e dizendo-se um sonoro "sim para a felicidade", foi pelas ruas de Juiz de Fora ignorando aos chamados do torturador.

Um comentário:

O Sibarita disse...

kkkkkkkkkkkkkkkk Acelga, é? kkkkkkk

Rapaazzz... Até eu to rindo com, oi mas, estou com os dentes limpos, até escovei os dentes para não me trair ao comentar e gargalhar, viu? kkkkkkk

É, sei lá, pode ser que aqui neste espaço de comentário tenha um espelho cristalino que reflita ai onde vc está e mostre-me com os dentes, não com acelga, e sim, com gerimum ou quem sabe pividio de jaca! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Belo conto!

Agora me diga para que essa sopinha de letras que dificulta enviar o comentário? Aimôpai! kkkkk
O Sibarita