quinta-feira, 12 de abril de 2012

Correndo


Então ela levantou da cama e saiu correndo porta a fora, de camisola mesmo, e sentiu os pés tocarem o asfalto da rua, que mais parecia uma banheira preenchida pela água da chuva forte e fria que caía das nuvens carregadas lá de cima.
O céu das seis da manhã mais parecia ser da tarde pela cor levemente escurecida que tinha em si. Ainda assim,o centro estava a toda como todos os dias, com carros e ônibus cortando as ruas. E ela corria. Corria nervosa e apressadamente com seus pés descalços. Seguia para alguma direção, isso se existia alguma direção para ela naquele momento. Apressava-se, porque havia algo em seu ser que gritava. E esse ser que gritava dentro de seu corpo, era o desespero procurando por paz. O medo, o sufoco, procurando por conforto e ar. E todos eles tinham pressa.
Então ela continuava com a velocidade. Corria, corria e ofegava, mas não sentia cansaço nem a falta do ar. Porque começava a sentir-se mais aliviada agora. Quando foi então diminuir seus passos rápidos, desequilibrou-se no asfalto tão ensopado quanto seu cabelo e sua camisola – suas pernas curtas estavam exaustas – e caiu sobre ele. Deitou-se.
Com os próprios braços, fez um travesseiro para deitar a cabeça. Fechou os olhos, respirou fundo e encolheu-se ali, no meio da rua do centro da cidade, em plena seis da manhã. Chovia forte, e no céu não havia qualquer feixe de luz solar. Por um instante sentiu sua pele se arrepiar pela primeira vez ao toque frio da chuva gélida e grossa que despencava. Estava voltando a si, se acalmando. Porque a rua, o ar, o ambiente amplo, o movimento, a liberdade, faziam-na sentir-se bem mais confortável e segura do que dentro de casa.
Tinha acordado bem cedo aquele dia e não tardou a perceber que estava sozinha em casa, trancada, presa, com as portas e janelas todas fechadas. Então o desespero lhe percorreu o sangue das veias e num segundo deu-lhe o instinto de ir para a primeira porta, destrancá-la e sair – correndo, já que só assim o pânico passava. Porque era isso que ela tinha, síndrome do pânico.

#Pauta para o Bloínquês

Nenhum comentário: