sexta-feira, 30 de março de 2012

Sem amarguras, só saudade

Alçada por tranquilidade ela balançava os pés no píer. Os olhos despreocupados observavam as oscilações lá longe. O sol refletindo nas cristas das ondas fazia os cílios enamorar-se. Por um instante conteve-se em seu reflexo distorcido na água branda, um sorriso se espreitou no canto da boca ao notar que ao lado de sua imagem refletida, a de outro alguém se formava. 
- Senti a sua falta. – foram as palavras que pousaram em seus ouvidos. O mar quebrantando nas pedras ao longe se fazia silencioso para abraçar aquela voz serena e tanto ansiada.
- E eu a sua. – conteve-se ao dizer. Ainda amargurada pelo denso tempo que o esperou.
- Me desculpe pelo tempo. – disse como se adivinhasse seus pensamentos. Sentou-se ao seu lado fincando os olhos no horizonte.
- Ninguém tem culpa pelo tempo. – mordeu o lábio ao dizer, porque no fundo sabia que se entregar doía, e felicidade e amargura não pode ocupar o mesmo espaço, não ao mesmo tempo.
- Eu me entreguei a ele, deveria ter resistido um pouco mais. A volta seria breve. – as palavras saíram envergonhadas.
- Deveria. – foi sincera enfim.
Desconcertados ficaram encarando o Sol que descia devagar, as mãos inquietas, os suspiros solenes, o quase silêncio pairando entre os dois.

- Aceita desculpas sinceras? O seu nome estava em mim todos os dias. – replicou. Ainda está. – confessou. O sorriso dessa vez não se escondeu, nasceu em seus lábios para juntar-se aos dele. E ficaram ali, diminuindo saudade, abrindo o peito e aquietando as mãos umas nas outras. O dia se foi, a espera voltaria, mas eles permaneceriam correspondentes. Sem amarguras, só saudade.

3 comentários:

Luria Corrêa disse...

Que bonito Maiara, viajei na cena.
Bom fim de semana, bjs.

Rafael Bellozi disse...

Lindo!

Cynthia Brito disse...

Simplesmente perfeito!