quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Para não estar só



Parecia feliz. Desde a hora em que atravessei a rua de casa, ele vinha atrás de mim. Ninguém parecia notá-lo, e ele me seguia se desviando das pessoas como se fossem coisas, quase como se não as notasse também.
Rumei para onde eu queria, para onde eu precisava. O azul do céu era quase invisível por causa das nuvens cinza que o estampavam. Era tarde de segunda-feira, então ninguém aparecia ali no rio de água transparente que havia na pequena cidade. A não ser eu, que sempre aparecia quando sentia algum tipo de vazio, fosse o dia que fosse.
Deixei meus chinelos na areia e fui caminhando pela água até que esta tampasse meus tornozelos. E ele estava sentado, ao lado dos meus chinelos. Virei-me para minha direita e comecei a andar, chutando devagarzinho a água que cobria meus pés. Me relaxava. Mas então ouvi mais uma parte da água fazendo barulho. Um barulho que não provinha do movimento que eu fazia com os pés. Olhei para trás, e lá estava ele, o cãozinho, vindo logo atrás de mim, com o rabo erguido e balançando. Era mais um desses cãezinhos que eu sempre via pelas ruas. – Mais um desses cãezinhos abandonados, que passam a perambular por aí, perdidos em qualquer canto.
Mas aquele que me seguia desde que saí de casa, estava mesmo feliz e parecia se divertir em andar comigo ali pela beira do rio. Talvez o barulho da água aos nossos movimentos o relaxasse também. É, talvez tínhamos isso em comum. Mas o fato que ninguém me tirava da cabeça, é que aquela felicidadezinha nos olhinhos dele, - que podia ser comprovada no rabo erguido e balançante - era por ter alguém para acompanhar de modo recíproco, e não ficar mais só. Porque cachorros, assim como pessoas, também não gostam de serem abandonados e ficarem perdidos sem ninguém por aí. Então naquele momento eu tive certeza que não é preciso ser racional, pra saber que tudo que é vivo necessita de mais algo que também respire, porque ainda que ambos estejam perdidos, não estarão sós.