segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Do sentido dos verbos

Aqueles olhos tremeluzentes o fitavam inquietos, dizendo inúmeras coisas a cada fração de segundo enquanto os lábios não pronunciavam nada. Ela era uma daquelas meninas que a sociedade chama de à toa. Tinha inúmeros amigos e ao mesmo tempo não tinha nenhum. Amigos que ela adorava ajudar e passar um tempo junto. Mas amigos que a tachavam de louca, quando ela é que precisava de atenção e assistência. Thiago não sabia se isso a incomodava. Se incomodasse, ela dispensava as mágoas. Porque ela nunca foi de abandonar ninguém. E era por essa docilidade toda de ser, que ele a admirava. E não a deixava nunca, apesar de não ser amigo dela.
Ela sempre estava por todos os cantos, era conhecida. Thiago só a conhecia por observá-la de longe – e observava muito, porque ela o intrigava. Mas aquele dia, ao encontrá-la sozinha e chorando, ele obrigou-se a se aproximar. Não era fácil de entendê-la, mas sem saber ele a compreendia.
Tirou os olhos dos olhos dela por um minuto e baixou-os para o pulso que segurava: Aquelas linhas de sangue e linhas de cicatrizes que o compunham, só de olhar davam mais dor do que levar um choque de cotovelo bem forte.
- Não precisa me chamar de louca. Nem perguntar como eu tenho coragem e tempo de fazer isso. Todos já perguntaram, e eu não fiz questão de responder. – Disse Lívia dolorosa e friamente, fazendo com que Thiago voltasse a fitá-la nos olhos.
- Eu jamais diria ou perguntaria algo semelhante. – Respondeu ele, com sinceridade nas palavras calmas e compaixão nos olhos.
Ele sabia que para que aquilo fosse feito, sem dúvida houve uma dor muito maior que só ela era capaz de entender. Algumas pessoas aliviam suas dores comendo, outras gritando... Lívia se cortava, porque era a maneira dela.
Ela olhou-o na mesma hora com os olhos inquietos finalmente calados, sem saber o que dizer, surpresa. Então ele tomou-a nos braços e ela se agarrou ao pescoço dele. De alguma forma ela sabia que fora compreendida. E se não tivesse sido, pelo menos não fora julgada. E fora acolhida.
As pessoas querem tanto por defeito nos outros para se sentirem superiores... Outras querem tanto dar conselhos para se sentirem sábias, que se esquecem que às vezes só precisam ouvir, ou ver, e então fazer um gesto de carinho e cuidado, para que aquele com problemas, independente de sua sanidade, saiba que tem com quem contar. – pensava ela enquanto ganhava de um desconhecido um abraço que há muito precisava. E queria.

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