Não sou original, eu sempre soube disso. Quando encontrar essa carta, e se encontrar essa carta, significa que não pude esperar para me despedir. Você sabe, cartas assim sempre funcionam nos romances e despedidas nunca são como a gente espera. Há intensidade demais nas despedidas. Sempre as pensei como quebras. É como rasgar um papel pela metade, um se joga ao vento e o outro se guarda, e então a gente reza, reza com toda a força que é pra ver se um dia eles se juntam. Acontece com a gente também. Quem foi que disse que a distância não esmaga? É engraçado pensar dessa forma, mas olha bem, como que quilômetros podem caber nos centímetros quadrados do coração? Não cabe, alguma coisa extrapola, e é a saudade; porque se distância não mata, é a saudade que desatina o coração. Mas não vou pensar assim. Prefiro imaginar que ao partir, deixei por aí minhas esperanças: eu voltarei, nem que seja só pra te dar o abraço que não dei. Ah, meu bem, como meu peito está apertado. Sabe daquelas vezes que o que a gente escreve não faz sentido, mas esse desconserto é suficientemente lógico pra dizer que, seja lá o que estiver escrevendo sempre foi e sempre será para tentar explicar, nem que seja estranho, o quanto eu te amo. Nunca esqueci das promessas, eu sei, foram três: a primeira na escada do teu prédio, te prometi fazer-te feliz, a segunda, debaixo da mangueira do sítio de minha avó, te prometi que não haveria tristeza e essa terceira, que eu voltarei. Não havia o que fazer por aí, você sabe. Além do mais sabe que essa universidade é o sonho que sempre carreguei. E daí que estou do outro lado do Atlântico? Que serão quatro anos? Que todos desacreditam de nosso amor e, às vezes, até nós mesmos duvidamos?
Se me esperares, meu bem, te esperarei também.
Porque em acreditarmos, ninguém há de dizer que não é verdade.
Com amor,
Armando.
1917
Nenhum comentário:
Postar um comentário